Águas da desunião nacional: representações da transposição do rio São Francisco

Autores

  • Lauriston de Araújo Carvalho Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
  • Maria Cristina Smith Menandro

DOI:

https://doi.org/10.12957/psi.saber.soc.2017.23717

Resumo

DOI:10.12957/psi.saber.soc.2017.23717

RESUMO: Nessa última década, as secas tornaram-se mais frequentes nas regiões brasileiras, por isso a água tem se tornado um bem constantemente debatido nos meios de comunicação. Entendendo a integração de rios com bacias hidrográficas como política pública fundamental de acesso à água, o presente estudo objetivou conhecer as representações sociais da transposição do rio São Francisco no Jornal Estado de Minas entre 1999 e 2008. A coleta foi realizada no site do jornal, perfazendo um total de 316 reportagens. Para tratamento dos dados foi utilizado o software Alceste. Os resultados mostram discursos contra e a favor do projeto nos governos FHC e Lula. Os discursos contrários ao projeto clamam pela revitalização do rio. Através das falas dos pescadores, o rio é objetivado na figura de uma pessoa doente em virtude do seu estado degradado e ancorado em épocas de matas ciliares preservadas. A revitalização seria a salvação do rio, tornando-se principal argumento contra o projeto. Paralelamente, o uso da transposição para fins econômicos torna-o questionável e ancorado ao histórico de obras públicas inconclusas no Nordeste e de objetivos escusos. Nos discursos favoráveis, propalados especialmente por políticos, a transposição é imprescindível para o desenvolvimento econômico do Nordeste. Tais desenvolvimentos são elementos representacionais ligados à ideia de seca, pois as estiagens contribuíram para as históricas migrações forçadas e estagnação do desenvolvimento da região. Dessa forma, na problemática da crise hídrica, a ideia da transposição como propulsor do desenvolvimento e remediação da seca, mostra-o como redentor do Nordeste/nordestino, explorado pelo jornal e propagandas governamentais.

Palavras-chave: representação social; rio São Francisco; transposição; meio ambiente; imprensa.

ABSTRACT: In this last decade droughts have become more frequent in the Brazilian regions, where the water becomes constantly discussed in the media. Understanding the transposition of the São Francisco River as a fundamental public policy on these problems, this study aimed to understand the social representations of the transposition of the São Francisco River in the Estado de Minas newspaper from 1999 to 2008. The collection was made in the newspaper's website, making a total of 316 reports. The data collected was analyzed by Alceste software. The results show speeches against and favor of the project in the FHC and Lula administrations. Speeches against the project claim for the revitalization of the river. Through the speeches of fishermen, the river is objectified a sick person because of its degraded state and anchored in preserved riparian forests. The revitalization would be the salvation of the river, becoming main argument against the project. Same time, the use of transposition for economic purposes becomes questionable and anchored to the history of unfinished public constructions in the Northeast and shady goals. Speeches in favor, made especially by politicians, transposition is essential for the economic of the Northeast. Such development is representational element linked to the idea of drought, therefore, the aridity contributed to the historical migration and stagnation of the region. Thus, in the water crisis, the idea of transposition as a driver of development and remediation of drought, shows him as redeemer of the Northeast/northeastern, exploited by newspaper and government advertisements.

Keywords: social representation; São Francisco river; transposition; environment; press.

Biografia do Autor

Lauriston de Araújo Carvalho, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Maria Cristina Smith Menandro

Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professora Associada do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento, na Universidade Federal do Espírito Santo, atuando na Graduação e no Programa de Pós-Graduação em Psicologia.

Downloads

Publicado

03.10.2017

Como Citar

Carvalho, L. de A., & Menandro, M. C. S. (2017). Águas da desunião nacional: representações da transposição do rio São Francisco. Psicologia E Saber Social, 6(1), 13–25. https://doi.org/10.12957/psi.saber.soc.2017.23717

Edição

Seção

Estudo Empírico