Editorial

Autores

  • Heliana Conde UERJ
  • Marcio José de Araujo Costa
  • Monalisa Pontes Xavier
  • Carla Fernanda de Lima
  • Guilherme Augusto Souza Prado

Resumo

Editorial:

 

Parte especial: dossiê Psicologia Brasileira: formação, clínica, política e estéticas minoritárias

 

Este dossiê é fruto das articulações e discussões iniciadas no I Congresso de Psicologia Brasileira no campus Parnaíba da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que se realizou entre os dias 26 e 29 de abril de 2018 e teve como proposta a abertura de espaços de diálogo para a construção de uma Psicologia com matriz na realidade e no cotidiano do povo brasileiro, que, tradicionalmente, encontra-se à margem dos discursos científicos, em geral, e da Psicologia, especificamente.

Pensar uma Psicologia Brasileira, a nosso ver, significa resgatar a nossa história, de mulheres e homens colonizados e forjados em teorias que pouco dizem de nós, mas que bem têm funcionado como modelos de produção de subjetividades a nós ofertados. Significa resgatar as tradições, a história e as marcas que estar no Brasil, que ser brasileira e brasileiro nos imprimem, buscando a afirmação e a legitimação da multiplicidade de vozes que transitam à margem das narrativas oficiais. Significa resgatar, como traz o samba-enredo da Mangueira (2019), “o que a história não conta”, para assim “ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”.

Isso significa pensar a Psicologia por outras vias, outros referenciais, articulando formação, estética, clínica e política. E assim produzir outros possíveis para um fazer que transborde os limites de suas próprias práticas, que possa problematizá-las e, assim, reinventar nossa prática psicológica, fugindo de avatares cientificistas que mascaram sua escolha de classe (média e rica), de raça (branca), de gênero (cis, masculino e heterocentrado) e de padrão subjetivo (neurótico). Propomos, ao contrário, uma Psicologia encarnada, que revele não apenas de onde ela parte, suas escolhas pelas classes subalternizadas, pelas raças discriminadas, pelos gêneros dissidentes, pelas subjetividades não normalizadas, mas que, ao mesmo tempo, denuncie de onde parte a Psicologia hegemônica que se pretende neutra e universal, que reforça violências sociais históricas em nosso país.

Pensando em uma reescrita da Psicologia, agora uma Psicologia Brasileira, feita com brasilidade, com a voz, a cor e o rosto de brasileiros e brasileiras, voltada às questões de nossa gente, em suas mais distintas formas de existências, esse dossiê se apresenta, trazendo dez artigos que entrelaçam, por diferentes perspectivas, estéticas e políticas, formas de (re)invenção da formação em Psicologia e da prática psicológica.

Por fim, salientamos que ao assumir o compromisso de fazer e pensar uma Psicologia Brasileira, o presente dossiê toma a Psicologia como campo de dispersão em termos de ciência e prática social e, por isso, atenta à multiplicidade de vozes e culturas, comprometendo-se com a variedade de dificuldades e desafios de um país com aspectos continentais. Particularmente ressaltamos que essa iniciativa, surgida no Nordeste, mas igualmente com parceiros resistentes ao micro e macro fascismo do Sudeste, que se dissemina amplamente em todo o Brasil (e no mundo), torna nosso esforço ainda mais eloquente. Pois é justamente essa Região do Brasil, o Nordeste, que sempre sofreu preconceitos do colonialismo tupiniquim do Sul e Sudeste – supostamente branco, modelo e “civilizado” –, a que resiste na sua busca de minorar a Psicologia a partir de sua localidade e intrínseca descolonialidade. O Nordeste, que traça suas linhas de vida para fugir do Brasil como modelo, afirmando suas línguas menores, sua brasilidade antropófaga, negra e indígena, e sua história de lutas minoritárias contra o Estado, para sobreviver à necropolítica colonialista e para afirmar sua diferença. Se nosso dossiê busca uma minoração da Psicologia a partir da brasilidade, o Nordeste seria a minoria no Brasil que permitiu nossa desterritorialização.

Nesse espírito de solidariedade a todas aquelas e aqueles que resistem nesses tempos sombrios, afirmando as potências da alegria, da diferença e da criação, agradecemos em particular a Heliana de Barros Conde Rodrigues e toda a equipe de Mnemosine pela acolhida de nosso dossiê nessa edição da revista.

 

Marcio José de Araujo Costa 

Monalisa Pontes Xavier

Carla Fernanda de Lima 

Guilherme Augusto Souza Prado

 

 

Parte geral:

....embora eu insista a cada dia – e tente convencer eventuais alunos e orientandos – que minoritário não é sinônimo de pequeno, decerto a parte especial do presente número de Mnemosine convida a minorizar discursos, ainda mais os de editoriais supostamente sapientes. A psicologia brasileira – assim mesmo, com minúsculas – é, nela, um povo por vir, mas já presente, qual um exu que, como no provérbio africano, matou ontem o pássaro que pegou hoje.

...na parte geral, apenas dois artigos e uma indispensável memória.

...os dois artigos, sobre extensão – o minoritário presente-futuro das universidades públicas brasileiras?

...a memória, sobre a extensão de uma saudade, uma saudade como obra de arte.

....boa leitura, gratidão a todxs xs amigxs – cada vez mais indispensáveis...

 

Heliana de Barros Conde Rodrigues

Biografia do Autor

Heliana Conde, UERJ

  

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Publicado

2019-12-08

Como Citar

Conde, H., Costa, M. J. de A., Xavier, M. P., Lima, C. F. de, & Prado, G. A. S. (2019). Editorial. Mnemosine, 15(2). Recuperado de https://www.e-publicacoes.uerj.br/mnemosine/article/view/48311

Edição

Seção

Editorial