Balzac entre realismos: uma leitura de A obra-prima ignorada (1831) à luz de Rancière

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/matraga.2021.58759

Palavras-chave:

Realismo, Revolução estética, Balzac, Partilha do sensível, Literatura moderna.

Resumo

O artigo visa propor alguns pontos de referência para compreender a singularidade do realismo como parte integrante da literatura moderna e desatrelado do dito imperativo de representação do real – tão criticado por vanguardas e teorias do século XX. Para tanto, partimos de uma contraposição entre, de um lado, a leitura auerbachiana de Stendhal e, de outro, do que a lógica antiga do decoro previa como os possíveis da representação literária – a observância de sedes argumentativas que, mesmo onde os gêneros se misturam, mantém intacta uma ordem do discurso que guarda forte analogia com uma partilha de lugares sociais. Contra esse fundo, o novo que emerge no discurso realista aparece como o que Rancière (2009a) denomina “revolução estética”: uma implosão da lógica hierárquica da representação em nome de um regime em que o real adentra o relato literário sem o apoio de sedes previstas. A desierarquização posta em jogo pelo regime estético é uma glória do qualquer, segundo a qual não só o os homens mais infames (FOUCAULT, 1998) podem sentir e falar como os reis da tragédia, como também o detalhe mais anódino pode guardar em si a significação da obra. A partir disso, propomos uma análise da novela A obra-prima ignorada (1831), de Balzac, enquanto figuração privilegiada tanto dos riscos e excessos possíveis das vanguardas por vir, como da vida infame que visa representar o relato realista.

Biografia do Autor

Maurício Chamarelli Gutierrez, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

É Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É Mestre (2010) e Doutor (2015) em Ciência da Literatura (Poética) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a tese intitulada Notas a um plano contemporâneo. Concluiu estágio pós-doutoral (2017) em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Atuou como professor pelas três referidas universidades, publicou diversos artigos, ensaios e resenhas sobre poesia contemporânea e ou- tros temas, sempre trabalhando na interface entre a literatura, a filosofia e a política. Atualmente se dedica a estudos de estética e literatura moderna.

Lucas Bento Pugliesi, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

É doutorando em Ciências da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, detendo-se sobre as relações entre teologia, política e poética no século XVII. É Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo, com a dissertação Um esforço contra o futuro: poética e política nos periódicos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco 1845-1855, e Graduado em Letras também pela USP. Foi Professor Substituto de Teoria Literária (2017- 2018) na UFRJ e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2019). Foi bolsista da Fundação Casa de Rui Barbosa (2018-2019) e do Instituto de Estudos Brasileiros (2015-2016) atuando na área de acer- vos literários.

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Publicado

2021-10-12

Como Citar

Gutierrez, M. C., & Pugliesi, L. B. (2021). Balzac entre realismos: uma leitura de A obra-prima ignorada (1831) à luz de Rancière. Matraga - Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Letras Da UERJ, 28(54), 474–485. https://doi.org/10.12957/matraga.2021.58759

Edição

Seção

Estudos Literários