A política da incivilidade
Resumo
O pintor flamengo, Pieter Brueghel, retratou em sua obra homens se aliviando, aleijados pedindo esmolas e camponeses trabalhando – bem como matadouros e patíbulos. Em sua obra-prima, O Processo Civilizador, Norbert Elias mostrou como “as classes superiores da Baixa Idade Média” ainda não exigiam, como o fariam as gerações posteriores, que “todas as coisas vulgares fossem suprimidas da vida e, portanto, das pinturas”.Há alguns séculos, a definição da incivilidade tem estado intimamente ligada a nível social, status de classe, hierarquia política e relações de poder. A capacidade de identificar e punir a incivilidade tem estado associada a posições de privilégio político – e tem, ao mesmo tempo,
constituído e reforçado o poder político.
Receio que isso seja verdade ainda hoje: a definição de incivilidade no discurso político continua a ser uma estratégia política profundamente perpassada por relações de poder. No rastro dos atentados de Tucson, renovaram-se os apelos por uma maior civilidade em nosso discurso político.
Embora, no plano pessoal, eu seja a favor do discurso civilizado como um caminho mais sensato, reconheço que esta é inevitavelmente uma estratégia política mais acessível àqueles que já têm sua audiência ou que ocupam uma posição profissional que lhes garante maior acesso à mídia e ao público.
Pessoalmente, prefiro uma ética da civilidade comprometida com dizer a verdade, mas sou profundamente consciente de que isto pode ser reflexo de um certo privilégio, e este mesmo privilégio faz com que eu me contenha ao exigir dos outros que sejam mais civilizados em seu discurso. Isto sugere, ao menos para mim, que devemos ter cuidado ao dizer aos outros como devem falar.
Palavras chave: Discurso civilizado. Incivilidade política. Violência política.
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