O HISTÓRICO DAS INTERVENÇÕES HUMANAS NA BAÍA DE GUANABARA (BRASIL) E O REGISTRO DO ANTROPOCENO EM QUATRO UNIDADES SEDIMENTARES

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/jheotb.2020.49099

Palavras-chave:

Baia da Guanabara, Holoceno, Atividades antrópicas, Registro sedimentar, Sistema costeiro

Resumo

A Baía de Guanabara, um dos mais importantes sistemas costeiros do sudeste brasileiro, com os seus primeiros rasgos estruturais durante o pré-cambriano e instalação definitiva durante o Cenozoico, tem vindo a ser modelada por processos relacionados com alterações climáticas e mais recentemente pela forte atividade antrópica, na região. Este trabalho pretende efetuar uma síntese de registros sedimentares históricos relacionados com a ação antrópica no entrono da Baía de Guanabara e definir o início do Antropoceno neste sistema costeiro.Em adição, os resultados desta investigação permitem a  divisão do Antropoceno em quatro periodos de sedimentação na Bia da Guanabara.

A documentação e os dados analisados permitem considerar que a camada sedimentar que marca o início do Antropoceno, na Baía de Guanabara foi depositada em 1502 (Ano Domine), no decurso da “Pequena Idade do Gelo”, ano a partir do qual teve início o processo de ocupação colonialista dos Portugueses. Esforços de ocupação e defesa local após o descobrimento, em 1502, culminou com a criação da cidade do Rio de Janeiro, em 1565.A partir de então observam-se no registro sedimentar a redução granulométrica dos sedimento, em plena Pequena Idade do Gelo, aumento progressivo dos teores de matéria orgânica mudanças polínicas resultantes do desmatamento para extração do pau-brasil, para a cultura da cana-de-açúcar, que se estendeu dos séculos XVI ao XIX, e do café nos séculos XVIII e XIX. De meados do séc. XVIII ao início do séc. XX inicia o ciclo da mineração, seguida do começo do ciclo da industrialização e principia de forma incipiente a poluição danosa na Baía de Guanabara. O desenvolvimento industrial, a partir da invenção da máquina a vapor, associado à necessidade de matéria-prima, conseguida a baixo custo nos países colonizados à época, marcou a segunda fase do Antropoceno na Baía de Guanabara, a partir de meados do século XVIII e que terá durado até ao início do século XX. Esta fase é identificada em registros sedimentares onde ocorre aumento expressivo de metais.

Início do séc. XX ao início dos anos 50 a alteração de mais de 10 Km da orla ocidental da baía próxima a desembocadura causa a alteração do padrão hidrodinâmico dando lugar a um aumento acentuado da acumulação de sedimentos finos em vastas áreas da Baía de Guanabara

A quarta fase do Antropoceno, após meados do século XX, teve lugar num cenário de grande crescimento demográfico e industrial. A Baía de Guanabara passou a recolher o excedente sedimentar provocado pelas intervenções antrópicas acrescido do aumento dos resíduos domésticos (lixo em geral e esgoto) e industriais (óleo, metais pesados, substâncias tóxicas e carga orgânica) oriundos da expansão das atividades no seu entorno, acarretando a aceleração da perda de sua área de superfície e de profundidade.

Referências

Amador, E. D. S., 1974. Praias fósseis do Recôncavo da Baía de Guanabara. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 46, n.2, p. 253-262

Amador, E. D. S., 1975. O Caráter Bimodal das praias do Interior da Baía de Guanabara. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 47, n.2, p. 251-275

Amador, E. D. S., 1980. Assoreamento da Baía de Guanabara – Taxas de Sedimentação. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 52, n.4, p. 723-742

Amador,E. D. S., 1997. Baía de Guanabara e Ecossistemas Periféricos: Homem e Natureza. Rio de Janeiro: Reproarte Gráfica e Editora ltda. 539 p.

Andreata, V., Chiavari, M. P., Rego, H., 2009. O Rio de Janeiro e sua orla: história, projetos e identidade carioca. In: Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP). Coleção Estudos Cariocas. Rio de Janeiro, 16 pp. http://portalgeo.rio.rj.gov.br/estudoscariocas/resulta.asp. Acesso em 24.02.2020

Baptista Filho, L. S; Baptista Neto, J. A. ; Geraldes, M. C. O Antropoceno da Baía De Guanabara: Características sedimentares, elementos-traço e razões isotópicas de chumbo em testemunhos. Interações homem-meio nas zonas costeiras: Brasil / portugal. 1ed.Rio de Janeiro: Corbã Editora Artes Gráficas Ltda, 2013, v. , p. 15-40.

Baptista Filho, L.S., Baptista Neto, J.A., Alves Martins, M.V., Geraldes, M.C., 2019. Sourcesofpollutants in theNorthern/Northeastareaof Guanabara Bay (SE, Brazil) sincethe late nineteenth century using lead isotopes and metals concentrations. Journal of Sedimentary Environments, 4 (3): 332-349.

Barreto, C.F., Barth,.O.M, Brenner, W., Morgado, L.N.& Vilela, C.G. (2003). Análises palinológicas de sedimentos da superfície de depósitos do fundo da Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, Brasil. In: IX Congresso da ABEQUA 2003, Anais...CD-Rom.

Barreto, C. F., Luz, C. F.P., Baptista Neto, J. A., Vilela, C. G., Barth, O. M., 2007. Palynological analysis of a sediment core obtained in Guanabara Bay, Rio de Janeiro, Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 79, n.2, p. 223-234. https://doi.org/10.1590/S0001-37652007000200005

Barth, O. M., 2003. A Palinologia como Ferramenta no Diagnóstico e Monitoramento Ambiental da Baía de Guanabara e Regiões Adjacentes, Rio de Janeiro, Brasil. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ, v. 26, p. 52-59 (CASO COLOQUEM A FIG. 11)

Barth, O.M., Barreto, C.F., Coelho, L.G., Luz, C.F.P., 2004. Pollen record and paleoenvironment of 4210 years B.P. old sediment in the Bayof Guanabara, Rio de Janeiro, Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências 76, 549–551. http://dx.doi.org/10.1590/S0001-37652004000300009

Carreira, R. S., Wagener, A. L. R., et al., 2002. Changes in thesedimentaryorganiccarbon pool of a fertilized tropical estuary, Guanabara Bay, Brazil: an elemental, isotopicand molecular markerapproach. Marine Chemistry, v.79, n.3-4, p.207

Crutzen, P. J., STEFFEN, W., 2003. Howlonghavewebeen in theAnthropocene era?An Editorial Comment.Climatic Change, v. 61, p. 251–257

Cunha, B. C. A.; Rocha, D. S.; Geraldes, M.C.; Pereira, S. D.; Almeida, A.C. Pb isotopic signatures in sediment s of a sub-tropical coastal lagoon: Anthropogenic sources fo r metal contamination in the Sepetiba Bay (SE – Brazil). Journal of Coastal Research. , v.56, p.797 - 801, 2009.

Cunha, Bruno & Machado, Wilson & Souza, Ariadne & Araújo, Daniel & Garnier, Jérémie & Martins, Alan & Saliba, Bruno & Geraldes, Mauro. Lead source assessment by isotopic and elementary composition in the transition from pristine to polluted condiction of coastal sedimients. Journal of Sedimentary Environments. 3. 46-53. 10.12957/jse.2018.33890.

Fairbridge, R.W. Eustatic changes in sea level. In: Physics and Chemistry of the Earth, v.4, London: Elsevier, p. 99-185, 1961.

Fernandez, M. A. S., Wagener, A. D. L. R., Limaverde, A.M., Scofield, A.L., Pinheiro, F.M., Rodrigues, E., 2005. Imposexandsurfacesedimentspeciation: A combinedapproach to evaluateorganotincontamination in Guanabara Bay, Rio de Janeiro, Brazil. Marine Environmental Research, v.59, n.5, p. 435-452.

Fracioni, E., Wagener, A. D. L. R., et al., 2007.Polycyclicaromatichydrocarbon in inter-tidalmusselPernaperna: Space-time observations, sourceinvestigationandgenotoxicity. ScienceofThe Total Environment, v.372, n.2-3, p.515

Geraldes, M.C.; Paula, A.H.; Godoy, J.M.; Valeriano, C.M. Pb isotope signatures of sediments from Guanabara Bay, SE Brazil: Evidence for multiple anthropogenic sources. Journal of Geochemical Exploration., v.88, p.384 - 388, 2006.

Irelandes, D S. 1987. The Holocene sedimentary history of the coastal lagoons of Rio de Janeiro state, Brazil.In: TOOLEY MJ AND SHENNAN I (Eds), Sea level changes. Basil Blackwell. The Institute of British Geographers Special Publications Series: 2666. In: MUEHE D AND KNEIP L 1995. O sambaqui de Camboinhas e o de Maratuá e as oscilações do nível do mar. Documento de Trabalho. Série Arqueologia, Museu Nacional. UFRJ, RJ, Brasil 3: 75-82.

Kneip L, Crancio F, Santos CMC,Magalhães RMM., Mello EMB. 1997. O sambaqui do Saco e de Madressilva – Saquarema, RJ. Documento de Trabalho. Série Arqueologia, Museu Nacional, UFRJ, Rio de Janeiro, Nº 4, 67 p.

Kjerfve, B., Ribeiro, C. H. A., Dias, G. T. M., Fillipo, A. M., Quaresma, V. S., 1997. Oceanographic characteristics of an impacted coastal bay: Baia de Guanabara, Rio de Janeiro, Brazil. Continental Shel fResearch, v. 17, n. 13, p. 1609-1643.

Nascimento,D., Salomão, M., S., Mane, M.A., Geraldes, M.V. Marine transgression records in the Sepetiba Bay region (RJ-Brazil) by GPR and grund magnetic survey. Journal of Sedimentary Environments 4 (4): 518-539. doi: 10.12957/jse.2019.47382.

Paula, A.H. Geraldes, M. C. Holocene Pb isotope chronological standard curve: The record of the anthropogenic activity in the last 6,000 years. Terrae, 2006.2(1-2):55-60

Pereira, E., Baptista Neto, J. A., Smith, B. J., McAllister, J. J., 2007. Thecontributionofheavy metal pollutionderivedfromhighwayrunoff to Guanabara Baysediments – Rio de Janeiro / Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 79, n. 4, p. 739-750

Pinto, A.F.S., Ramalho, J.C.M., Borghi, L., Carelli, T.G., Plantz, J.B., Pereira, E., Terroso, D., Santos, W.H., Geraldes, M.C., Rocha, F., Rodrigues, M.A.C., Laut, L., Martins, M.V.A., 2019. Background concentrations of chemical elements in Sepetiba Bay (SE Brazil). Journal of Sedimentary Environments, 4 (1): 108-123.

Potratz, G. ., Geraldes, M. C., Bizz, S., Nogueira, L. Martins, M. V. A. ⁠2019. Using lead isotopes and potentially toxic elements to trace pollutant sources in the northern region of Guanabara Bay, southeastern Brazil .Marine Pollution Bulletin. Volume 144: 216-223.

Rocha, D. S.; Cunha, B. C. A.; Geraldes, M. C.; Pereira, S. D.; Almeida, A.C. Metais pesados em sedimentos da baía de Sepetiba, RJ: implicações sobre fontes e dinâmica da distribuição pelas correntes de maré. Geochimica Brasiliensis. , v.24, p.63 - 70, 2010.

Ruellan, F. (1944). Evolução Geomorfológica da Baía de Guanabara e das Regiões Vizinhas. Revista Brasileira de Geografia, 4(4), IBGE, Rio de Janeiro, p. 455-508.

Schell-Ybert, R. 2001.Man and vegetation in Southeastern Brazil during the Late Holocene.Journal of Archaeological Science. 28: 471 –480.

Suguio, K., Martin L., Bittencourt, A. C. S. P., Dominguez, J. M. L., Flexor, J. M., Azevedo, A. E. G. Flutuações do nível relativo do mar durante o quaternário superior ao longo do litoral brasileiro e suas implicações na sedimentação costeira. Revista Brasileira de Geociências, v. 15, n.4, p. 273-286, 1985.

Veloso, H.P., Rangel Filho, L.R., Lima, J.C.A. 1991. Classificação da vegetação brasileira adaptada a um sistema universal. Publicação Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 124 p.

Ybert JP, Bissa WM, Catharino ELM andKutner, M. 2003. Environmental and sea-level variations on the southeastern Brazilian coast duringt he Late Holocene with comments on prehistoric human occupation. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology 189: 11-24.

Ybert, J.-P., Salgado-Labouriau, M.L., Barth, O.M., Lorscheitter, M.L., Barros, M.A., Chaves, S.A.M., Luz, C.F.P., Ribeiro, M., Scheel, R. &Vicentini, K.R.F. 1992.Sugestões para padronização da metodologia empregada para estudos palinológicos do Quaternário. Revista do Instituto Geológico, 13: 47-49.

Downloads

Publicado

2020-10-07

Como Citar

Baptista Filho, L. S., Baptista Neto, J. A., Martins, M. V., & Geraldes, M. C. (2020). O HISTÓRICO DAS INTERVENÇÕES HUMANAS NA BAÍA DE GUANABARA (BRASIL) E O REGISTRO DO ANTROPOCENO EM QUATRO UNIDADES SEDIMENTARES. Journal of Human and Environment of Tropical Bays, (1), 46–80. https://doi.org/10.12957/jheotb.2020.49099

Edição

Seção

Artigos