TOMANDO A ANOREXIA NERVOSA COMO OBJETO DE ESTUDO SOCIOANTROPOLÓGICO: APROXIMAÇÃO COM OS SUJEITOS DA PESQUISA

Autores

  • Priscila da Silva Castro Universidade Federal do Rio de Janeiro.
  • Elaine Reis Brandão Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC)/ Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

DOI:

https://doi.org/10.12957/demetra.2014.6635

Palavras-chave:

Anorexia Nervosa, Adolescente, Ciências Sociais, Saúde Coletiva, Etnografia

Resumo

A anorexia nervosa é um transtorno alimentar que atinge principalmente adolescentes e jovens do sexo feminino. Embora a relação com o corpo e os alimentos esteja sempre presente ao se abordar a doença, por ser concebida como um transtorno de ordem psiquiátrica, muitas vezes sua compreensão fica restrita ao campo da saúde mental. Por meio de um estudo etnográfico com adolescentes em tratamento para anorexia nervosa em um serviço público de saúde de referência na cidade do Rio de Janeiro, pretende-se conhecer o funcionamento cotidiano dessa instituição e demonstrar como a compreensão da doença pode ser enriquecida por outros olhares disciplinares e das próprias adolescentes. O artigo apresenta uma primeira aproximação ao campo e aos adolescentes pesquisados, perpassando a construção do campo da pesquisa e “conversão” da nutricionista em antropóloga. Tal conversão se fez necessária para, dentre outras questões, captar a tensão existente dentro do serviço de saúde eleito entre profissionais de saúde, familiares e adolescentes.

DOI 10.12957/demetra.2014.6635

 

Biografia do Autor

Priscila da Silva Castro, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva.

Linha de Pesquisa: Abordagens sociológicas dos processos saúde-doença.

Elaine Reis Brandão, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC)/ Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Professora adjunta do Departamento de Medicina Preventiva e Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Referências

Borges NJBG, Sicchieri JMF, Ribeiro RPP, Marchini JS, Santos JE. Transtornos alimentares: quadro clínico. Medicina (Ribeirão Preto). 2006; 39(3):340-348.

Pinzon V, GONZAGA AP, Cabelo A, Labaddia E, Belluzzo P Fleitlich-Bilyk B. Peculiaridades do tratamento da anorexia e da bulimia nervosa na adolescência: a experiência do PROTAD. Rev. Psiq. Clin. 2004; 31(4): 167-169.

Cordás TA. Transtornos alimentares: classificação e diagnóstico. Rev. Psiq. Clin. 2004; 31(4):154-157.

Teixeira PC, Costa RF, Matsudo SMM, Cordás TA . A prática de exercícios físicos em pacientes com transtornos alimentares. Rev. Psiquiatr. Clin. 2009; 36(4):138-145.

Andrade TF, Santos MA. A experiência corporal de um adolescente com transtorno alimentar. Rev. Latinoam. Psicopatol. Fundam. 2009; 12(3):454-468.

Appolinário JC, Claudino AM. Transtornos alimentares. Rev. Bras. Psiquiatr. 2000; 22(Supl II): 28-31.

Bosi MLM, Andrade A. Transtornos do comportamento alimentar: um problema de saúde coletiva. Cad. Saúde Coletiva. 2004; 12(2):197-202.

American Psychiatric Association (APA). Practice guidelines for the treatment of patients with eating disorders (revision). Work Group on Eating Disorders. Am. J. Psychiatr. 2000; 157(1 Supl):1-39.

Schmidt E, Mata GF. Anorexia nervosa: uma revisão. Fractual Rev. Psicol. 2008; 20(2):387-400.

Giordani RCF. A auto-imagem corporal na anorexia nervosa: uma abordagem sociológica. Psicol. Soc. 2006; 18(2):81-88.

Nunes MA, Bagatini LF, Abuchaim AL, Kunz A, Ramos D, Silva JÁ, Somenzi L, Pinheiro A. Distúrbios da conduta alimentar: considerações sobre o Teste de Atitudes Alimentares (EAT). Rev. ABP-APAL 1994; 16(1):7-10.

Nunes MA, Olinto MT, Camey S, Morgan C, de Jesus Mari J. Abnormal eating behaviors in adolescent and young adult women from southern Brazil: reassessment after four years. Soc. Psychiatry Psychiatr Epidemiol. 2006; 41(12):951-956.

Vigarello G. História da beleza. Corpo e a arte de se embelezar, do renascimento aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Ediouro; 2006. 247 p.

Darmon M. Variations corporelles. L’anorexie au prisme des sociologies du corps. Adolescence. 2006; 24(2):437-452.

Adami F, Fernandes TC, Frainer DES, oliveira FR. Aspectos da construção e desenvolvimento da imagem corporal e implicações na Educação Física. Revista Digital - Buenos Aires. 2005; 10(83). [acesso em: 12 jan. 2012]. Disponível em: http://www.efdeportes.com.

Niemeyer F, Kruse MHL. Constituindo sujeitos anoréxicos: discursos da revista Capricho. Texto Contexto Enferm. 2008; 17(3):457-465.

Bender APPR, Piccoli JCJ. Relação entre índice de massa corporal e a percepção da imagem corporal de mulheres de 18 a 45 anos freqüentadoras do programa esporte e lazer da cidade de Feliz, RS. Revista Digital - Buenos Aires. 2009; 14(132). [acesso em: 12 jan. 2012]. Disponível em: http://www.efdeportes.com/.

Cooper MJ, Deepak K, Grocutt E, Bailey E. The experience of ‘feeling fat’ in women with anorexia nervosa, dieting and non-dieting women: an exploratory study. Eur. Eat. Disord. Rev. 2007; 15(5):366-372.

Foucault M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; 1984. 147 p.

Rodrigues JC. Tabu do corpo. 7a ed. rev. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2006. 154 p.

Le Breton D. Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. 4a ed. Campinas: Papirus; 2003. 240 p.

Holston JI, Cashwell CS. Family functioning and eating disorders among college women: a model of prediction. Journal of College Counseling. 2000; 3:5-16.

Le Breton D. A sociologia do corpo. 4a ed. Petrópolis: Vozes; 2010. 102 p.

Fajans J. Autonomy and relatedness: emotions and the tensions between individuality and sociality. Crit. Anthropol. 2006; 26(1):108-119.

Chandra PS, Abbas S, Palmer R. Are eating disorders a significant clinical issue in urban India? A survey among psychiatrists in Bangalore. Int. J. Eat. Disord. 2012; 45(3):443-446.

Simpson KJ. Anorexia nervosa and culture. J. Psychiatr. Ment. Health Nurs. 2002; 9: 65-71.

Carney T, Louw J. Eating disordered behaviors and media exposure. Soc. Psychiatr. Psychiatr. Epidemiol. 2006; 41:957–966.

Gonzaga AP, Weinberg C. Transtornos alimentares: uma questão cultural? Rev. Latinoam. Psicopatol. Fundam. 2005; 8(1):30-39.

Lee S. Engaging Culture: An overdue task for eating disorders research. Cult. Med. Psychiatry. 2004; 28:617-621.

Weinberg C. Do ideal ascético ao ideal estético: a evolução histórica da Anorexia Nervosa. Rev. Latinoam. Psicopatol. Fundam. 2010; 13(2):224-237.

Fiates GMR, Salles RK. Fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares: um estudo em universitárias. Rev. Nutr. 2001; 14:3S-6S.

Facchini M. La imagen corporal en la adolescencia: es un tema de varones? Arch. Argent. Pediatr. 2006; 104(2): 177-184.

Melin P, Araújo AM. Transtornos alimentares em homens: um desafio diagnóstico. Rev. Bras. Psiquiatr. 2002; 24:(Supl III):73S-76S.

Andersen AE. Eating disorders in gay males. Psychiatr. Ann. 1999; 29:206-212.

Giles D. Constructing Identities in cyberspace: the case of eating disorders. Br. J. Soc. Psycho. 2006; 45(3):463-477.

Ferreday D. Unspeakable bodies: erasure, embodiment and the Pro-Ana Community. International J. Cultural Stud. 2003; 6(3):277-295.

Boero N, Pascoe CJ. Pro-anorexia communities and online interaction: bringing the Pro-ana body online. Body Soc. 2012; 18(2):27-57.

Ward KJ. I love you to the bones: constructing the anorexic body in Pro-Ana message boards. Sociological Research Online. 2007; 12(2). [acesso em: 08 nov. 2010]. Disponível em: http://www.socresonline.org.uk/12/2/ward.html.

Haas SM, Irr ME, Jennings NA, Wagner LM. Communicating thin: a grounded model of online negative enabling support groups in the pro-anorexia movement. New Media & Society. 2010; 13(1):40-57.

World Health Organization. Adolescent health [Internet]. Geneva: World Health Organization. [acesso em: 04 nov. 2012]. Disponível em: http://www.euro.who.int/en/what-we-do/health-topics/Life-stages/child-and-adolescent-health/adolescent-health.

Leite VJ. A sexualidade adolescente a partir de percepções de formuladores de políticas públicas: refletindo o ideário dos adolescentes sujeitos de direitos. Psicol. Clín. 2012; 24(1):89-103.

Burgić-Radmanović M, Gavrić Z, Štrkić D. Eating behavior disorders of female adolescents. Psychiatr Danub. 2009; 21(3):297-301.

Nunes MA, Olinto MTA, Barros FC, Camey S. Influência da percepção do peso e do índice de massa corporal nos comportamentos alimentares anormais. Rev. Bras. Psiquiatr. 2001; 23(1):21-27.

Vilela JEM, Lamounier JÁ, Dellaretti Filho MA, Barros Neto JR, Horta GM. Transtornos alimentares em escolares. J. Pediatr. 2004; 80(1):49-54.

Taquette SR, Vilhena MM, Silva MM, Vale MP. Conflitos éticos no atendimento à saúde de adolescentes. Cad. Saúde Públ. 2005; 21(6):1717-1725.

Roots P, Rowlands L, Gowers SG. User satisfaction with services in a randomised controlled trial of adolescent Anorexia Nervosa. Eur. Eat. Disord. Rev. 2009; 17:331-337.

Martínez-Hernáez Á, Muñoz García A. Un infinito que no acaba. Modelos explicativos sobre la depresión y el malestar emocional entre los adolescentes barceloneses (España). Primera parte. Salud Mental. 2010; 33(2):145-152. [acesso em: 14 out. 2012]. Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=58215623005.

Boughtwood D, Halse C. Other than obedient: girls’ constructions of doctors and treatment regimes for anorexia nervosa. J. Appl. Soc. Psychol. 2010; 20:83-94.

Treasure J. Eating disorders. Medicine. 2008; 36(8):430-435.

Williams S, Reid M. Understanding the experience of ambivalence in anorexia nervosa: the maintainer’s perspective. Psychology and Health. 2010; 25(5):551-567.

Rich E. Anorexic dis(connection): managing anorexia as an illness and an identity. Sociol. Health Illn. 2006; 28(3):284-305.

Lenoir M, Silber TJ. Anorexia nerviosa en niños y adolescentes (Parte 2). Arch. Argent. Pediatr. 2006; 104(4): 338-344.

Dunker KL, Philippi ST. Hábitos e comportamentos alimentares de adolescentes com sintomas de anorexia nervosa. Rev. Nutr. 2003; 16:51-60.

Nordbo RHS, et al. The meaning of self-starvation: qualitative study of patients’ perception of anorexia nervosa. Int. J. Eat. Disord. 2006; 39(7):556–564.

Silva DFA. Contextos socioculturais dos transtornos alimentares: gênero e intersecções. In: Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder; 25-28 ago. 2008; Florianópolis, Brasil. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2008. [acesso em: 22 jun. 2011]. Disponível em URL: http://ebookbrowse.com/daniela-ferreira-araujo-silva-47-pdf-d118869153.

Warin M. Transformations of intimacy and sociality in anorexia: Bedrooms in Public Institutions. Body Soc. 2005; 11(3):97-113.

Giordani RCF. O corpo sentido e os sentidos do corpo anoréxico. Rev. Nutr. 2009; 22(6):809-821.

Beaud S, Weber F. Guia para a pesquisa de campo: produzir e analisar dados etnográficos. Petrópolis: Vozes; 2007. 235 p.

Víctora CG, Knauth DR, Hassen MNA. Pesquisa qualitativa em saúde: uma introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo Editorial; 2000. 136 p.

Eriksen TH, Nielsen FS. Quatro pais fundadores. In: Eriksen TH, Nielsen FS. História da antropologia. 3a ed. Petrópolis: Vozes; 2010. p. 49-68.

Malinowski B. Introdução: o assunto, o método e o objetivo desta investigação. In: Durham ER, organizador. Bronislaw Malinowski. São Paulo: Ática; 1986.

Zambrano E. A experiência etnográfica no campo médico e médico-jurídico. In: Experiências, dilemas e desafios do fazer etnográfico contemporâneo. Org: Schuch P, Vieira MS, Peters R. Porto Alegre: Ed. da UFRGS; 2010. p.59-70.

Peirano M. A favor da etnografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 1995.

Durhamer. A pesquisa antropológica com populações urbanas: problemas e perspectivas. In: Cardoso R, Organizador. A aventura antropológica: teoria e pesquisa. São Paulo: Paz e Terra; 1997. p. 17-38.

Strauss A. The hospital and its negotiated order. In: Freidson E. The hospital in modern society. Londres: Collier-MacMillan; 1963. p.147-169.

Publicado

2014-01-09

Como Citar

Castro, P. da S., & Brandão, E. R. (2014). TOMANDO A ANOREXIA NERVOSA COMO OBJETO DE ESTUDO SOCIOANTROPOLÓGICO: APROXIMAÇÃO COM OS SUJEITOS DA PESQUISA. DEMETRA: Alimentação, Nutrição & Saúde, 9(1), 3–22. https://doi.org/10.12957/demetra.2014.6635

Edição

Seção

ARTIGOS ORIGINAIS