Implicações das relações de gênero nos ambientes alimentares domésticos saudáveis

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/demetra.2023.65199

Palavras-chave:

Ambiente Alimentar. Alimentação Saudável. Trabalho Feminino. Desigualdade de Gênero. Interseccionalidade.

Resumo

Ambientes alimentares domésticos condicionam oportunidades e práticas que se relacionam à nutrição e à promoção da alimentação saudável. Devido às construções de gênero, as mulheres têm papel fundamental nesses contextos, estando associadas histórica e culturalmente ao cuidado alimentar nos domicílios. Considera-se que fatores como raça e classe social proporcionam diferentes experiências e níveis de agência feminina em ambientes alimentares domésticos, reverberando sobretudo na alimentação e na saúde. A partir disto, este ensaio propõe uma reflexão sobre as repercussões das relações entre gênero e ambientes alimentares domésticos. Discute-se também como os desdobramentos das interações entre as desigualdades de gênero, raciais e econômicas incidem na organização e no cuidado com a alimentação, a partir de aspectos que vão desde a aquisição e preparo de alimentos saudáveis, a padrões de consumo criados. Conclui-se que a falta de compartilhamento do trabalho doméstico, a dupla jornada, a sobrecarga, a dificuldade de acesso a recursos e alimentos e a vulnerabilidade socioeconômica são alguns dos fatores que desafiam a constituição de ambientes alimentares domésticos justos e saudáveis.

Biografia do Autor

Gabriela Brito de Lima Silva, Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana.

Bacharela em Gastronomia pela UFBA; Mestra em Alimentos, Nutrição e Saúde pela UFBA; Doutoranda em Nutrição Humana

Elisabetta Recine, Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana.

Doutora em Saúde Pública pela USP

Professora Adjunta da Universidade de Brasília

Referências

Hlpe. High Level Panel of Experts. Nutrition and food systems: A report by the High-Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition. Committee on World Food Security. Rome, 2017. [citado 2021 setembro 10]. Disponível em: http://www.fao.org/3/i7846e/i7846e.pdf

Global Nutritions Report: Action on Equity to end Malnutrition. Bristol, UK: Development Initiatives, 2020. [citado 2021 setembro 10]. Disponível em: https://globalnutritionreport.org/reports/2020-global-nutrition-report/

Espinoza PG, Egadã D, Masferrer D, Cerda R. Propuesta de un modelo conceptual para el estudio de los ambientes alimentarios en Chile. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 41, p. e169, 2017. doi: 10.26633/ RPSP.2017.169

Turner C, Aggarwal A, Walls H, Herforth A, Drewnowski A, Coates J, et al. Concepts and critical perspectives for food environment research: A global framework with implications for action in low- and middle-income countries. Global Food Security, 18: 93–101, 2018. https://doi.org/10.1016/j.gfs.2018.08.003

Certeau M, Giard L, Mayol P. A invenção do cotidiano, Vol 2: Morar, Cozinhar. Petrópolis: Editora Vozes, 12º Ed., 2019.

Soares MD, Santos LA. Gênero, cuidado alimentar e saúde no âmbito doméstico: algumas reflexões. In: Strey MN, Verza F, Romani PF, organizadoras. Gênero, Cultura e Família. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015.

Petrics H, Stamoulis K. Aspectos de gênero na segurança alimentar e nutricional urbana: o papel crítico dos ambientes alimentares nas cidades. Revista de Agricultura Urbana, nº 37, p. 20-24, jul. 2020. [citado 2021 setembro 10]. Disponível em: https://www.agriculturaurbana.org.br/rau/rau_37/rau37_total.pdf

HIRATA, Helena. Comparando relações de cuidado: Brasil, França, Japão. Estudos Avançados, v. 34, p. 25-40, 2020. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2020.3498.003

Soares MD, Coelho TCB. O cotidiano do cuidado infantil em comunidades rurais do Estado da Bahia: uma abordagem qualitativa. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 8, n. 4, p. 463-472, 2008. https://doi.org/10.1590/S1519-38292008000400012

Canuto R, Fanton M, Lira PIC. Iniquidades sociais no consumo alimentar no Brasil: uma revisão crítica dos inquéritos nacionais. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, p. 3193-3212, 2019. https://doi.org/10.1590/1413-81232018249.26202017

Kapilashrami A, Hankivsky O. Intersectionality and why it matters to global health. The Lancet, v. 391, n. 10140, pág. 2589-2591, 2018. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31431-4

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Domiciliares: 2017-2018: Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos no Brasil. IBGE: Rio de Janeiro, 2020. [citado 2021 setembro 10]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101704.pdf

Glanz K, Sallis JF, Saelens BE, Frank LD. Healthy nutrition environments: concepts and measures. American journal of health promotion, v. 19, n. 5, p. 330-333, 2005. https://doi.org/10.4278/0890-1171-19.5.330

Mills SDH, Wolfson JA, Wrieden WL, Brown H, White M, Adams J. Perceptions of ‘home cooking’: a qualitative analysis from the United Kingdom and United States. Nutrients, v. 12, n. 1, p. 198, 2020. https://doi.org/10.3390/nu12010198

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outras Formas de Trabalho 2019. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. IBGE: Rio de Janeiro, 2020. [citado 2021 setembro 10]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101722_informativo.pdf

Rotenberg S, De Vargas S. Práticas alimentares e o cuidado da saúde: da alimentação da criança à alimentação da família. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 4, n. 1, p. 85-94, 2004. https://doi.org/10.1590/S1519-38292004000100008

Borges CA, Cabral-Miranda W, Jaime PC. Urban food sources and the challenges of food availability according to the Brazilian dietary guidelines recommendations. Sustainability, v. 10, n. 12, p. 4643, 2018. https://doi.org/10.3390/su10124643

Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Estatísticas de Gênero: Indicadores sociais das mulheres no Brasil. Estudos e Pesquisas, Informação Demográfica e Socioeconômica, n.38, 2021. [citado 2021 setembro 10]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101784_informativo.pdf

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil. Estudos e Pesquisas, Informação Demográfica e Socioeconômica, n. 41, 2019. [citado 2021 setembro 10]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf

Oliveira, TC, Czeresnia D, Vargas EP, Barros DC. Concepções sobre práticas alimentares em mulheres de camadas populares no Rio de Janeiro, RJ, Brasil: transformações e ressignificações. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 22, p. 435-446, 2018. https://doi.org/10.1590/1807-57622016.0807

Hirata H. O trabalho de cuidado. Sur - Revista Internacional de Direitos Humanos, v. 13, n.24, p. 53-64, 2016.

Pinheiro L, Lira F, Rezende M, Fontoura N. Os desafios do passado no trabalho doméstico do século XXI: reflexões para o caso brasileiro a partir dos dados da PNAD contínua. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). 2019. [citado 2021 setembro 10]. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9538/1/td_2528.pdf

Sorj B, Fontes A. O care como um regime estratificado: implicações de gênero e classe social. In: Hirata H, Guimarães NA, organizadoras. Cuidados e cuidadoras: as várias faces do trabalho do care. São Paulo: Atlas, 2012.

Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística (IBGE). Estatísticas de Gênero Indicadores sociais das mulheres no Brasil. Estudos e Pesquisas, Informação Demográfica e Socioeconômica, n. 38, 2018. [citado 2021 setembro 10]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf

Lelis CT, Teixeira KMD, Silva NM. A inserção feminina no mercado de trabalho e suas implicações para os hábitos alimentares da mulher e de sua família. Saúde em debate, v. 36, p. 523-532, 2012.

Abonizio J, Jimenez-Jimenez ML. Isso sim é comida de madame: um estudo sobre a relação entre práticas alimentares e mobilidade social ascendente. Revista Pós Ciências Sociais, v. 15, n. 29, p. 209-232, 2018. http://dx.doi.org/10.18764/2236-9473.v14n27p209-232

Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (REDE PENSSAN). VIGISAN: Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Rio de Janeiro: Rede Penssan, 2021. [citado 2021 setembro 10]. Disponível em:http://olheparaafome.com.br/VIGISAN_AF_National_Survey_of_Food_Insecurity.pdf

Ferreira VA, Magalhães R. Práticas alimentares de mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família na perspectiva da promoção da saúde. Saúde e Sociedade, v. 26, p. 987-998, 2017. https://doi.org/10.1590/S0104-12902017170302

Swan E. COVID-19 foodwork, race, gender, class and food justice: an intersectional feminist analysis. Gender in Management: An International Journal, v. 25, p. 693-703, 2020. https://doi.org/10.1108/GM-08-2020-0257

Lopes CHAF, Jorge MSB, Machado ALG. A mulher e o cotidiano alimentar na família: significados e crenças. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, v. 8, n. 1, p. 9-17, 2007.

Publicado

2023-03-31

Como Citar

Silva, G. B. de L., & Recine, E. (2023). Implicações das relações de gênero nos ambientes alimentares domésticos saudáveis. DEMETRA: Alimentação, Nutrição & Saúde, 18, e65199. https://doi.org/10.12957/demetra.2023.65199

Edição

Seção

Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva