O erê e o devir-criança negro: outros possíveis em tempos necropolíticos

Authors

DOI:

https://doi.org/10.12957/childphilo.2021.56331

Keywords:

Devir-criança negra, erê, necropolítica, candomblé

Abstract

O objetivo deste artigo é o de investigar como a noção de devir-criança negra, intermediada pela experiência do erê no candomblé, nagô suscita outros possíveis existenciais para as crianças em tempos necropolíticos. A hipótese central é de que as crianças negras são marcadores de singularidades sociais potentes para se alterar a lógica dos coeficientes mortíferos que perpassam a necropolítica atual. Ao mesmo tempo, sustenta-se que sem o enfrentamento do carrego colonial não há como mitigar-se a força e a presença da necropolítica. Para tanto, o texto atualiza a condição da necropolítica contemporânea considerando sua genealogia colonizadora. Em seguida, a partir de pesquisas com crianças negras no candomblé nagô Ilê Axé Omo Oxe Ibalatam, na cidade de São Paulo, destacar-se-á a relação do erê na deflagração do devir-criança negra, bem como suas implicações para se produzir outros possíveis em tempos necropolíticos.

Author Biography

alexandre filordi carvalho, Universidade Federal de Lavras

Alexandre Filordi de Carvalho é doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP); doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na área de Psicologia da Educação; mestre em Educação também pela UNICAMP, na área de Educação, Sociedade e Cultura; ainda possui especialização em Psicoterapia Familiar e de Casal pelo Centro de Formação e Assistência à Saúde (CEFAS/Campinas). Realizou dois estágios de pós-doutoramento em Educação: entre 2013-2014 na UNICAMP e entre 2018-2019 na Universidad Complutense de Madrid, com bolsa CAPES. Coordena o GT-17 de Filosofia da Educação na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação; ocupa a vice-presidência da Sociedade Brasileira de Filosofia da Educação (SOFIE). Entre 2008 e 2020 atuou no Departamento de Educação da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Coorienta pesquisa em nível de doutorado na Universidade de Lisboa (Departamento de Estudos de Desenvolvimento do Instituto Superior de Economia e Gestão). Coordena o Grupo de Investigação e Invenção em Teorias Transversais para a Educação (GRIITTE/CNPq). É integrante da Red Iberoamericana Foucault (RIF); da Red de Investigación en Educación y Pensamiento Contemporáneo (RIEPCO); Editor adjunto da Revista Pro-Posições (UNICAMP) e membro do Comitê Científico da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP/INEP). Pesquisador permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIFESP, na linha de Educação: Desigualdade, Diferença e Inclusão, investigando diferenças, singularidades e processos de subjetividades na sociedade contemporânea, a partir de referenciais da filosofia contemporânea e da psicanálise. Atualmente é Professor Associado 2 no Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Assessor científico da FAPESP e do CNPq (PIBIC/AF/PIBITI).

References

Asante, Molefi Kete. Afrocentricidade: notas sobre uma posição disciplinar. In: Nascimento, Elisa Larkin. Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo Negro, 2009.

Benjamin, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Editora 34, 2004.

Berardi, Franco. Asfixia. Capitalismo financeiro e a insurreição da linguagem. São Paulo: Ubu, 2020.

Brown, Wendy. Nas ruínas do neoliberalismo. A ascensão da política antidemocrática no ocidente. São Paulo: Politéia, 2018.

Butler, Judith. Vida precária. Os poderes do luto e da violência. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

Carvalho, Alexandre Filordi de. “Foucault e o neoliberalismo de subjetividades precárias: incidências na escola pública brasileira”. Revista Artes de Educar. V.6, n. 3 (2020), p. 935-956.

Carvalho, Alexandre Filordi de. Trajetividade e máquina geográfica: cinema e terras entre intervalos para outros espaços sem terra. In. Azevedo, Ana Francisca; Ramírez, Rosa Cerarols; Oliveira Júnior, Wenceslao (Orgs.). Intervalo: entre Geografias e Cinemas. Minho: UMDGEO - Departamento de Geografia, Universidade do Minho, Braga-Portugal, 2015, v. II, p. 97-114.

Césaire, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2010.

DeleuzE, Gilles; Guattari, Félix. Mil Platôs. V. 1. São Paulo: Editora 34, 2011

Deleuze, Gilles; Guattari, Félix. Mil Platôs. V. 4. São Paulo: Editora 34, 2012.

Dilger, Gerhard; Lang, Miriam; Pereira Filho, Jorge (Orgs.). Descolonizar o imaginário. São Paulo: Elefante, 2020.

Fanon, Frantz. Peau noire, masques blancs. Paris: Seuil, 2015.

Federici, Silvia. O ponto zero da revolução. Trabalho doméstico, reprodução e luta feminina. São Paulo: Elefante, 2019.

Foucault, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Gomes, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos na luta por emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017.

Hosang, Daniel Martinez; Lowndes, Joseph. Producers, parasites, patriotes. Race ande the new right-wing politics of precarity. London/Minneapolis: University of Minessota Press, 2019.

Kilomba, Grada. Memórias da plantação. Episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

Kinzer, Stephen. Overthrow. America’s century of regime change from Hawaii to Iraq. New York: Times Books, 2006.

Krenak, Ailton. “Ailton Krenak”. In. Cohn, Sérgio; Kadiwéu, Idjahure (Orgs.), Tembeta: conversas com pensadores indígenas. Rio de Janeiro: Azougue, 2019, p. 11-51.

Mcclintock, Anne. Couro imperial. Raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas: Editora UNICAMP, 2018.

Mbembe, Achille. Necropolítica. São Paulo: N-1, 2018 a.

Mbembe, Achille. Crítica da razão negra. São Paulo: N-1, 2018 b.

Memmi, Albert. Retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

Nobles, Wade. “To be or not to be: the questions of identity or authenticity: some preliminary thoughts”. In: Jones, Reginald (org). African American identity development: theory, research and intervention. Jones Hampton: Cobb & Henry Publishers, 1998.

Nobles, Wade. Seeking the Sakhu. Geórgia: FAHQ, 2010.

Nobles, Wade. Sakhu Sheti: retomando e reapropriando um foco afrocentrado. In: Nascimento, Elisa Larkin. Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo Negro, 2009.

Oliveira, Eduardo David. A ancestralidade na encruzilhada. Curitiba: Gráfica Popular, 2007.

Ramos, Sílvia. Racismo, motor da violência: um ano da Rede de Observatórios da Segurança. In. Ramos, Sílvia et al (Orgs.). Rio de Janeiro: Anabela Paiva, Centro de Estudo de Segurança e Cidadania (CESeC), 2020.

Rufino, Luiz. Exu e a Pedagogia das Encruzilhadas. 231 f. (Tese), Doutorado em Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro- Faculdade de Educação. Rio de Janeiro, 2017.

Rufino, Luiz; Simas, Luiz Antonio. Fogo no Mato: a ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.

Rufino, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2019.

Said, Edward W. Orientalismo: o oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SantoS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília. INCTI, UnB, 2015.

Santos, Juana Elbein. Os Nàgô e a morte: Pàde, Àsèsè e o culto Égun na Bahia. 14.ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

Schucman, Lia Vainer. Entre o encardido, o branco e o branquíssimo. Branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo. São Paulo: Venetá, 2020.

Senghor, Léopold Sédar. Oeuvre poétique. Paris: Éditions du Seuil, 1990.

Sodré, Muniz. Pensar Nagô. Petrópolis: Vozes, 2018.

Souza, Ellen Gonzaga Lima. Experiências de infâncias com produções de culturas no Ilê Axé Omo Oxé Ibá Latam. 2016. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2016.

Souza, Ellen de Lima; Andrade, Antônio Paulino. In: Barreiro, Alex; et alli. (Orgs.) Pesquisas e pedagogias: educação para as diferenças. Uberlândia: Navegando Publicações, 2020.

Standing, Guy. O precariado. A nova classe perigosa. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância. O impacto do racismo na infância. Brasília: UNICEF, 2010.

Varikas, Eleni. A escória do mundo. Figuras do pária. São Paulo: Editora Unesp, 2014.

Verger, Pierre. Notas sobre o culto aos orixás e voduns na Bahia de todos os santos, no Brasil, e na antiga costa dos escravos, na África. Tradução Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999.

Weil, Pierre. Introdução ao tema da normose. In. Crema, Roberto; Leloup, Jean-Yves; Weil, Pierre (Orgs). Normose. A patologia da normalidade. 5.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011, p. 13- 30

Published

2021-05-27

How to Cite

carvalho, alexandre filordi, & souza, ellen de lima. (2021). O erê e o devir-criança negro: outros possíveis em tempos necropolíticos. Childhood & Philosophy, 17, 01–28. https://doi.org/10.12957/childphilo.2021.56331

Issue

Section

Childhood and Necropolitics: other possibles

Most read articles by the same author(s)