Sexualidad, Salud y Sociedad

REVISTA LATINOAMERICANA

ISSN 1984-6487 / n.7 - abr. 2011 - pp.4-6 / Carrara, S. / www.sexualidadsaludysociedad.org

Editorial

Sergio Carrara

O primeiro número deste ano de Sexualidad, Salud y Sociedad – Revista Latinoamericana traz um conjunto de textos originais – artigos e resenhas –que, em múltiplos eixos temáticos, estabelecem diálogos importantes, tanto entre si quanto com a cada vez mais densa literatura latino-americana sobre gênero e sexualidade.

Do ponto de vista teórico, quase todos os textos giram em torno das delicadas tramas e armadilhas de constituição, reprodução e transformação das subjetividades e das identidades sociais. Vários deles referem-se a contextos em processo de intensa mudança, nos quais antigas expectativas relativas a performances de gênero aparecem deslocadas ou desfiguradas. Este é o caso, por exemplo, das masculinidades heterossexuais, tematizadas nos artigos de Souza Ramos e Cantalice. Ambos abordam o modo como as identidades masculinas vêm sendo reconfiguradas na mídia e em certos mercados afetivo-sexuais, incorporando aspectos tradicionalmente atribuídos ao universo feminino. Em larga medida, tais reconfigurações se processam sobre o pano de fundo da crescente visibilidade política e cultural das identidades gays, lésbicas, transexuais, travestis, drags etc., objeto central de preocupação nos textos de Rabbia & Iosa; Silva Júnior; e Santos, Costa, Carpenedo & Nardi.

As resenhas dos livros de Lobert e Cosse remetem os leitores ao momento histórico dos quase míticos “anos 60”, em que, embaralhando papéis, códigos e moralidades, as atuais e paradoxais gramáticas de gênero e sexualidade fizeram sua “estreia” espetacular através de irreverentes produções culturais, como a dos Dzi Croquettes no Brasil, que, como constava no título original do trabalho de Lobert, colocavam “uma resposta difícil de perguntar”. Enfim, parece-nos que é justamente para a formulação desta “pergunta”, foco desde então da atenção de teóricos de feitios tão diferentes como Butler, Lacan ou Foucault, que o artigo de Peller traz contribuição significativa.

Ressaltamos também que, diferente dos anteriores, este número volta-se especialmente para a análise da chamada “produção cultural”. Nele, autores novos ou que apenas recentemente se inclinaram para as questões contempladas pela revista refletem sobre os sentidos, os modos de recepção e os possíveis usos sociais de filmes, revistas e espetáculos artísticos. Amplia-se assim o espectro temático da revista e, esperamos, também o universo dos leitores, que podem encontrar nela subsídios para os seus trabalhos, pesquisas e reflexões.