Sexualidad, Salud y Sociedad

REVISTA LATINOAMERICANA


ISSN 1984-6487 / n.2 - 2009 - pp.5-6 / www.sexualidadsaludysociedad.org



No 2 (2009)


Editorial

Sérgio Carrara, Ivonne Szasz, Silvina Ramos & Carlos Cáceres



Os artigos enfeixados neste segundo número de Sexualidade, Saúde e Sociedade – Revista Latinoamericana compõem um interessante painel da polifonia que atualmente cerca as questões relativas à sexualidade e ao gênero nos países da Região. Seja na forma do discurso religioso, jurídico, político ou acadêmico (todos de algum modo representados nesta edição), múltiplas vozes entrecruzam-se e sobrepõem-se, deslocando os sentidos socialmente atribuídos aos corpos, aos sujeitos e às relações de intimidade que eles estabelecem entre si.

Respeitando as diferentes perspectivas, métodos e teorias de cada um dos artigos, podemos dizer que todos abordam o modo pelo qual a extensão da linguagem “dos direitos sexuais” e os processos de cidadanização em curso nos diferentes países envolvem uma nova geografia simbólica, estabelecendo outras fronteiras entre os chamados “mundo público” e “mundo privado”. Sendo este justamente o tema central do artigo de Brown, que abre este número apontando para o caráter histórico e contextual de tal divisão, ele se desdobra e ganha densidade empírica nas reflexões subsequentes.

No estudo de caso sobre o Club Gay Amazonas, de Tenosique, no México, Parrini e Amuchástegui mostram como a politização da sexualidade articula-se a processos de construção de novas subjetividades, imprimindo à cidadania, como dizem os autores, “un matiz de deseo”. Beltrão e Libardi, por sua vez, discutem como a relação afetivo-sexual entre duas mulheres – assunto que até muito recentemente no Brasil seria considerado de ordem privada e apenas mereceria registro público como fofoca ou maledicência – é, a despeito delas e frustrando suas pretensões políticas, reconhecida pela Justiça Eleitoral brasileira como de tipo conjugal.

A (des)articulação entre esfera pública e privada ecoa em um outro conjunto importante de artigos cujo foco recai sobre o discurso religioso, ou seja, sobre um dos mais tradicionais planos de regulação moral do universo privado. Dois deles exploram as implicações políticas da cosmovisão evangélica, seja sobre práticas contraceptivas e aborto, como no caso do trabalho de Gomes, seja sobre a homossexualidade, como no caso do texto de Natividade e Oliveira. O terceiro, escrito por Hayes, debruça-se sobre a Umbanda, religião brasileira de matriz africana, discutindo como certas tensões estruturais relativas à construção da feminilidade no Brasil são reelaboradas no contexto ritual, abrindo novas possibilidades para a trajetória social de mulheres das classes trabalhadoras.

No último artigo deste número, Zambrini e Iadevito revisitam as teorias feministas, tributárias da principal linha de força que, ao longo das últimas décadas, tem transformado “o pessoal em político”, configurando em larga medida o contexto atual.

Finalmente, além dos artigos, este número de Sexualidade, Saúde e Sociedade continua a trazer aos leitores resenhas de livros que, ou tratam diretamente da realidade latino-americana, ou oferecem, apesar de terem como referência empírica outros contextos, ferramentas teóricas, conceituais e metodológicas fundamentais para pensar situações ou problemáticas latino-americanas.