A Reversão da Doutrina Copernicana. A arca-originária Terra não se move

Autores

  • Edmund Husserl

DOI:

https://doi.org/10.12957/ek.2022.64538

Palavras-chave:

Fenomenologia, Transcendental, Natureza, Terra, Território, Corpo, Husserl.

Resumo

Apresentamos aqui a primeira tradução para o português do célebre manuscrito D 17, escrito por Husserl entre 7 e 9 de maio de 1934, e publicado por M. Farber em 1940, no volume Philosophical Essays in Memory of E. Husserl. O manuscrito possuía em seu envelope o seguinte comentário descritivo: "Reversão da doutrina copernicana na interpretação da visão de mundo habitual. A arca-originária Terra não se move. Investigações fundamentais sobre a origem fenomenológica da corporeidade da espacialidade da natureza no sentido primeiro da ciência natural. Todas estas investigações iniciais necessárias". Escrito no estilo livre e vivaz que caracteriza os manuscritos de pesquisa da fenomenologia de Husserl, este texto pertence ao grupo de manuscritos produzidos no entorno da última obra publicada de Husserl, A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental (1936). Se no extensamente comentado §9 desta obra Husserl empreende uma análise da ciência moderna partindo da instituição originária da física de Galilei, o ponto de partida de A Reversão é a noção de natureza que caracteriza o mundo copernicano, a qual estabelece a Terra como um corpo físico situado no interior do universo infinito. A epoché (no sentido específico dado a este termo no interior da fenomenologia husserliana) da tese copernicana leva Husserl à investigação da Terra em uma outra função transcendental, a saber, sua constituição enquanto solo e fundamento de referência para a experiência do espaço, do movimento e do repouso. Ao lado deste primeiro aspecto ligado ao sentido de natureza, a investigação de A Reversão abarca um outro campo temático, onde o manuscrito toca as fronteiras da filosofia fenomenológica e desafia os limites teóricos estabelecidos pelas interpretações ortodoxas da fenomenologia transcendental: a relação entre Terra, historicidade e intersubjetividade. Assim, a parte final do texto é dedicada à exposição da Terra como elemento da "história originária" que vincula todas histórias relativas da humanidade, a qual se organiza em uma multiplicidade de territórios ou moradas. Nos termos de Merleau-Ponty, a Terra é, sob esta perspectiva, a reserva de onde pode provir toda a vida, todo futuro e toda história.


Tradução de Gabriel Lago de Sousa Barroso *

* Doutor em filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2020), com estágio de pesquisa na Universidade de Freiburg (2017-2018). Foi professor substituto no departamento de filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2016; 2019-2021). Atualmente, é pesquisador assistente na Universidade de Wuppertal, na Alemanha, e nos Arquivos Husserl da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, com bolsa de pós-doutorado do programa DAAD-PRIME. Sua pesquisa atual trata da divisão entre natureza e cultura na fenomenologia (Husserl, Merleau-Ponty) e sua relação com a antropologia contemporânea (Descola, Latour, Viveiros de Castro). Email: lagobarroso@gmail.com.

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Publicado

2022-07-19

Como Citar

Husserl, E. (2022). A Reversão da Doutrina Copernicana. A arca-originária Terra não se move. Ekstasis: Revista De Hermenêutica E Fenomenologia, 11(1), 387–408. https://doi.org/10.12957/ek.2022.64538