[Português] Chamada de trabalhos - Vol. 11, N. 2

2022-03-30

Ekstasis: Revista de hermenêutica e fenomenologia divulga a chamada de trabalhos para selecionar artigos inéditos, resenhas e traduções para o próximo número.

Vol. 11, N. 2 (2022)

Dossiê “Novas Perspectivas da Fenomenologia

Submissões até 31 de agosto de 2022.

Para a organização deste dossiê, contamos com a participação especial do Dr. Gabriel Lago Barroso.

Aceitaremos submissões em português, espanhol, alemão, inglês, francês e italiano.

 

Segundo a célebre definição de Paul Ricœur, a fenomenologia pode ser caracterizada como a soma entre a obra de Husserl e heresias decorrentes dela. A despeito do tom polêmico dessa afirmação, seria um erro considerá-la como um juízo ortodoxo em defesa da integridade da obra do fundador da fenomenologia contra aqueles que deturparam seu sentido original. Antes, o que Ricœur tem em vista com essa aparente tensão entre a filosofia expressa no corpus husserliano e suas reformulações heréticas é o caráter eminentemente aberto da pesquisa fenomenológica. 

Essa abertura não é estranha à compreensão filosófica dos fundadores da fenomenologia. Em Husserl, encontramos a clássica determinação da fenomenologia como um “programa infinito”, que abarca necessariamente o trabalho intersubjetivo e intergeracional de uma comunidade de pesquisadores, transcendendo assim, por definição, sua identificação com a obra de único autor. Por outro lado, se esta visão aparentemente harmônica de um programa de pesquisa conduzido progressivamente por gerações de pesquisadores parece ir contra a compreensão heideggeriana da fenomenologia, é preciso lembrar que o autor de Ser e Tempo reteve um traço essencial da abertura da fenomenologia. Para Heidegger, a ideia de fenomenologia não reside em sua fixação efetiva como uma corrente filosófica entre outras, mas sim na sua apreensão enquanto possibilidade. A historicidade da filosofia fenomenológica é uma consequência dessa abertura para a possibilidade, razão pela qual, como indicado no Relatório-Natorp, a questão filosófica tem ela mesma um caráter histórico. Assim, a possibilidade de efeito de uma filosofia do passado não é estabelecida primordialmente por seus resultados, mas sim pela reformulação concreta da originariedade de sua questão, através da qual uma tal filosofia é capaz de se tornar uma vez mais presente. Por fim, é precisamente este vínculo entre a filosofia do passado e a necessidade de sua retomada no presente que leva Merleau-Ponty a abrir sua Fenomenologia da Percepção com a pergunta: “O que é a fenomenologia?”

A abertura essencial da filosofia fenomenológica implica a necessidade de sua constante reformulação. Nos últimos anos, ela abriu espaço para uma série de projetos que, embora se mantenham vinculados à retomada da tradição fundadora da fenomenologia, transcendem as divisões autorais em busca de uma reelaboração da fenomenologia enquanto tal. De acordo com isso, a fenomenologia se volta para a compreensão da originalidade de seu conceito de transcendental em sua distinção frente à filosofia transcendental clássica, assim como para as consequências dessa nova compreensão para a noção de experiência. Por outro lado, seguindo uma tendência já apontada por Eugen Fink diante dos limites da análise intencional, verifica-se recentemente a tentativa de elaborar uma metafísica fenomenológica e de determinar sua conexão com a filosofia especulativa. O projeto fenomenológico também se renova a partir do impulso recebido de seu debate com distintas posições filosóficas contemporâneas, como o naturalismo e o novo realismo. Por fim, a transformação das relações entre transcendental e empírico, entre ontológico e ôntico, introduz a necessidade de uma revisão da fenomenologia diante de sua interação com as ciências naturais, a psicologia e a antropologia. Se esta multiplicidade de tendências aponta para a revitalização do potencial filosófico da fenomenologia, ela está ao mesmo tempo explícita ou implicitamente vinculada à reflexão sobre o próprio conceito de fenomenologia.

À luz desta tendência recente de renovação do projeto fenomenológico e de sua tradição, o dossiê “Novas Perspectivas da Fenomenologia” convida pesquisadoras e pesquisadores do tema a submeterem suas contribuições para uma nova leitura da fenomenologia no horizonte da filosofia contemporânea. O objetivo central deste dossiê é contribuir para a discussão e a divulgação dos novos horizontes da fenomenologia, indo além da reconstrução historiográfica de autores específicos. Trata-se aqui de recobrar a abertura essencial da filosofia fenomenológica com base na compreensão de suas vertentes contemporâneas e nos debates travados com outras posições filosóficas da atualidade, tendo em vista a revitalização do próprio conceito de fenomenologia. 

 

Os tópicos apropriados para a submissão são os seguintes:

1. A originalidade do conceito fenomenológico de transcendental

2. A possibilidade de uma metafísica fenomenológica 

3. Filosofia especulativa e fenomenologia

4. O debate entre fenomenologia e novo realismo

5. A nova fenomenologia francesa

6. Repercussões da psicologia e da antropologia na filosofia fenomenológica

7. Possibilidade e limites da naturalização da fenomenologia 

8. Fenomenologia e desconstrução