CONCEPÇÕES DA CATEGORIA RAÇA NO PENSAMENTO GEOGRÁFICO BRASILEIRA
DOI:
https://doi.org/10.12957/geouerj.2025.72842Palavras-chave:
raça, racismo, pensamento geográfico, GeografiaResumo
O objetivo deste artigo é realizar uma leitura dos conceitos e das formas de operacionalização da categoria raça na Geografia brasileira. Focamos na trajetória conceitual da raça e em como as diferenças raciais foram interpretadas e produzidas pela disciplina durante o séc. XX para evidenciar as várias perspectivas no campo. Os debates sobre as relações raciais não são recentes na Geografia, essa ciência contribuiu ativamente para o desenvolvimento de diferenciações e hierarquizações baseadas na raça. No Brasil do século XX esse processo assumiu uma configuração específica marcada por discussões sobre o “problema da raça” na formação nacional e os efeitos do racismo na reprodução de desigualdades no espaço. Assim, há produção de discursos geográficos conservadores que buscaram relacionar “meio-raça” para instituir processos de branqueamento da população ou para afirmar a mestiçagem como ethos do caráter harmônico do povo brasileiro. Na contemporaneidade, a raça tem sido recuperada por geógrafos brasileiros para questionar as interpretações racistas e apresentar leituras mais complexas e críticas sobre as relações raciais brasileiras a partir da Geografia.
Downloads
Referências
ALMEIDA, S. L. de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
ANDERSON, B. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
AZEVEDO, A. de. Geografia do Brasil. São Paulo: Ed. Nacional, 1975[1969].
BACKHEUSER E. A estrutura política do Brasil. Rio de Janeiro: M. Machado, 1926.
______. A nova concepção da geographia. In: Revista da Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro tomo XXXI 1926-1927.
BANTON, M. The Idea of Race. New York: Routledge, 2019.
BASTIDE, R.; FERNANDES, F. relações Raciais entre Negros e Brancos em São Paulo: ed Unesco, Editora Anhembi, 1955.
BARROS, N. F. O livro didático de Geografia e o pensamento racialista brasileiro na formulação da identidade nacional durante a Primeira República. Dissertação (Mestrado em Geografia). Paraíba: UFPB, 2022.
CAMPOS, A. de O. Do quilombo à favela: a produção do “espaço criminalizado” no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
______. O planejamento urbano e a “invisibilidade” dos afrodescendentes. Tese (Doutorado em Geografia). UFRJ. Rio de Janeiro: 2006
CARVALHO, D. de; CASTRO, T. de. Geografia Humana: política e econômica. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Geografia, 1963.
CARVALHO, D. de. Geographia do Brasil: De acordo com o Programa do Colégio Pedro II. Rio de Janeiro: Empresa Gráfico Editora, 1923.
______. Geographia do Brasil. 5º ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1930.
______. Metodologia do Ensino Geográfico. Petrópolis: Vozes, 1925.
CIRQUEIRA, D. M.; CORRÊA, G. S. 2014. Questão Étnico-Racial Na Geografia Brasileira: Um Debate Introdutório Sobre A Produção Acadêmica Nas Pós-Graduações. In: Revista da ANPEGE 10(13), 2014. p. 29–58.
CIRQUEIRA, D. M. et al (orgs.). Caderno Temático “Geografias Negras”. Revista da ABPN, Goiânia, v. 12, ed. especial, abr. 2020.
______. Notas sobre a racialidade na Geografia Humana de Vidal de La Blache. Boletim Paulista de Geografia, n. 104, p. 103-120, 2020.
______. Raízes nefastas do pensamento geográfico no brasil: meio, raça e nação em Oliveira Vianna (1920-1933). Geosaberes: Revista de Estudos Geoeducacionais, v. 9, n. 19, 2018.
______. A maldição de Cam: relação "homem-meio" e projeto de nação em Silvio Romero. Terra Livre, v. 1, n. 46, p. 142-182, 2016.
______. Racismo e experiência do lugar em estudantes negras e negros. Geografia, Ensino & Pesquisa, v. 21, n. 2, p. 72-87, 2017.
______. Inscrições de racialidade no Pensamento Geográfico (1880-1930). Tese (Doutorado em Geografia). POSGeo-UFF: Niterói, 2015.
______. Entre o corpo e a teoria: a questão étnico-racial na obra e trajetória socioespacial de Milton Santos. Dissertação (Mestrado em Geografia), UFG, Goiânia, 2010.
CORRÊA, G. S. Narrativas raciais como narrativas geográficas: uma leitura do branqueamento do território nos livros didáticos de geografia. Dissertação (Mestrado em Geografia). UFF, Niterói, 2013.
COSTA, C. L.; RATTS, A. (orgs.). Espaço e diferença: abordagens geográficas da diferenciação étnica, racial e de gênero. Goiânia: UFG, 2018.
DEFFONTAINES, P. A População Branca No Brasil. In: Boletim Geográfico, Ano III, Nov. de 1945, n. 32. pg. 1069-1071.
FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Bibliote Azul, 2013.
FREYRE, G. Casa-Grande & Senzala. Português edição. São Paulo: Global Editora, 2006.
GONZALEZ, L. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano. Rio Janeiro: Zahar, 2020.
GUIMARÃES, A. S. A. Preconceito racial: modos, temas e tempos. São Paulo, Cortez, 2008.
Guimarães, Antonio Sérgio Alfredo. As elites de cor e os estudos de relações raciais. In:Tempo Social, 8, 1996. p. 67–82.
GUIMARÃES, G. F. Rio Negro de Janeiro: olhares geográficos de heranças negras e o racismo no processo-projeto patrimonial. Tese (Doutorado em Geografia). UFBA. Salvador:2015.
HALL, S. Raça, o significante flutuante. In: Revista Z Cultural, ano VIII, n. 02, 2013.
HASENBALG, C.; SILVA, N. do V. Estrutura social, mobilidade e raça. Rio de Janeiro: Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, 1988.
HASENBALG, C. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
LIMA-PAYAYÁ, J. S. et al (orgs.). Pensamentos Geográficos Africanos e Indígenas. In: Kwanissa, São Luís, v. 4, n. 10, 2021.
LIVINGSTONE, D. N. The Geographical Tradition: Episodes in the History of a Contested Enterprise. Illustrated edição. Oxford, UK : Wiley-Blackwell, 1993.
______. The Moral Discourse of Climate: Historical Considerations on Race, Place and Virtue. In: Journal of Historical Geography 17(4), 1991. p. 413–34.
MACHADO, L. O. Origens do pensamento geográfico no Brasil: meio tropical, espaços vazios e a idéia de ordem (1870-1930). In: CASTRO, I. E.; GOMES, P.C.C.; CORRÊA, R. L. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand, 1995. p. 309-353.
MAIO, M. C. O Projeto Unesco e a agenda das ciências sociais no Brasil dos anos 40 e 50. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais n. 14, 1999. p. 141–58.
MACHADO, T. C.; RATTS, A.. Trajetórias socioespaciais dos militantes do movimento negro na Região Metropolitana de Goiânia. In: Ateliê Geográfico, 6(2), 2012, p. 202–221.
MONBEIG, P. O homem branco e o meio tropical. In: Boletim Geográfico Ano V, Maio de 1947, n. 50. p. 123-125.
MORRISSEY, J., NALLY, D.; STROHMAYER, U.; WHELAN, Y. Key Concepts in Historical Geography. New York: SAGE, 2014.
MUNANGA, K. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: Identidade nacional versus identidade negra. Autêntica, 2019.
NASCIMENTO, B; RATTS, A.(org.). Uma história feita por mãos negras. São Paulo: Zahar, 2021.
NAYAK, A.; JEFFREY, A. Geographical Thought: An Introduction to Ideas in Human Geography. London: Routledge, 2015.
OLIVEIRA, D. A. de. Legado de um professor: uma homenagem a Andrelino de Oliveira Campos. [SYN]THESIS, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 9-15, jun./dez. 2016.
______. Por uma Geografia das Relações Raciais no Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Geografia) UFF, Niterói, 2011.
OLIVEIRA, R. C. de. O Estado da Arte das Questões Étnico-raciais nas Pesquisas em Ensino de Geografia. In: Boletim Paulista de Geografia, 1(104), 2020. p. 163–86.
OMI, M.; WINANT, H. Racial formation in the United States. New York: Routledge, 1994.
QUEIROZ, A. M. M. Geo-grafias insurgentes: corpo e espaço nos romances Ponciá Vicêncio e Becos da memória de Conceição Evaristo. (Tese de Doutorado) - UFG, Goiás, 2017.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder y clasificación social. In: Contextualizaciones latinoamericanas, v. 2, n. 5, 2015.
MALIK, Kenan. Strange Fruit: Why Both Sides are Wrong in the Race Debate. London: Oneworld Publications, 2008.
RAMOS, G. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1995.
RATTS, A. Gênero, raça e espaço: trajetórias de mulheres negras. In 27º. Encontro Anual da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. Caxambu. Anais. Caxambu, Minas Gerais, 2003.
______. A questão étnica e/ou racial no espaço: a diferença no território e a geografia. In: Boletim Paulista de Geografia. n. 104, 2020. p. 1–22.
______. Geografia, relações étnico-raciais e educação: a dimensão espacial das políticas de ações afirmativas no ensino. Terra Livre. Ano 26, v. 1, n. 34, jan.jun., 2010. p. 125-140.
RODRIGUES, Luiz Melo. As etnias brasileiras. In: AZEVEDO, Aroldo. Brasil: a terra e o homem. São Paulo: Companhia Editora Nacional, v.2,1970. p. 159-19
ROMERO, S. História da Literatura Brasileira. 2ed. Primeiro Tomo. Rio de Janeiro: H. Garnier, 1902[1888].
SANTOS, M. F. dos. A Temática Racial nas teses e dissertações defendidas em programas de Pós-Graduação em Geografia no Brasil (1987-2018). In: Revista ABPN. N. 12, Ed. Especial, 2020. p. 54–77.
SANTOS, M. F. dos, e RATTS, A. Trajetórias Negras Discentes no Espaço Acadêmico: O quadro da UFG diante das ações afirmativas. Educere et Educare, vol. 10, no.20, 2015, pp.641-652.
SANTOS, M. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.
______. Ser negro no Brasil hoje. In: RIBEIRO, W. C. (org.). O país distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania. São Paulo: Publifolha, 2002 [2000]. p. 157-161.
______. As exclusões da globalização: pobres e negros. In: FERREIRA, A. M. T. Na própria pele. Porto Alegre: CORAG/Secretaria de Estado da Cultura, 2000. p. 9-20.
______. Cidadanias mutiladas. In: LERNER, J. (Ed.). O preconceito. São Paulo: IMESP, 1996/1997, p. 133-144.
SANTOS, R. E.. (org.). Diversidade, espaço e relações étnico-raciais: o negro na geografia do Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
______ (Org.). Questões urbanas e racismo. Brasília, Petrópolis: DP e ABPN, 2012.
______. Movimentos Sociais e Geografia: sobre as espacialidades da ação social. Rio de Janeiro: Consequência, 2011.
______. Sobre espacialidades das relações raciais: raça, racialidade e racismo no espaço urbano. In: ______. (Org.) Questões urbanas e racismo. Rio de Janeiro: DP et all & ABPN, 2012, p. 36-67.
SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças: Cientistas, instituições e questão racial no Brasil do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
______. Questão racial e etnicidade. In: MICELI, S. (org.), O que ler na Ciência Social brasileira (1970-1995). São Paulo: Sumaré/Anpocs, pp. 267-326.
_______. O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SEYFERTH, G. O Beneplácito Da Desigualdade: Breve Digressão Sobre O Racismo E Outros Textos Sobre Questões Étnicorraciais. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2021.
SOUZA, L. F. de. Corpos negros femininos em movimento: trajetórias socioespaciais de professoras negras em escolas públicas. Dissertação (Mestrado em Geografia). UFG. Goiânia: 2007.
SOUZA, L. F. DE; CIRQUEIRA, D. M.; DE SOUSA, P. P. A.; & RATTS, A.Uma geografia das corporeidades e das diferenças. Uma Geografia do século XXI: temas e tensiones. Curitiba: CVR, 2020. p. 41-61.
STOGIANNOS, Alexandros. The Genesis of Geopolitics and Friedrich Ratzel: Dismissing the Myth of the Ratzelian Geodeterminism. New York: Springer, 2019.
UNIFICADO, Movimento Negro (MNU). 1978-1988: 10 anos de luta contra o racismo. São Paulo: Confraria do Livro, 1988.
VIANNA, O. Raça e assimilação. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959[1932].
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Diogo Marçal Cirqueira, Mariza Fernandes dos Santos

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Os Direitos Autorais dos artigos publicados na Revista Geo UERJ pertencem aos seus respectivos autores, com os direitos de primeira publicação cedidos à Revista. Toda vez que um artigo for citado, replicado em repositórios institucionais e/ou páginas pessoais ou profissionais, deve-se apresentar um link para o artigo disponível no site da Geo UERJ.
Os trabalhos publicados estão simultaneamente licenciados com uma Licença Commons BY-NC-SA 4.0.