TRANSGRESSÃO SILENCIOSA: PRESENÇA DO FANTÁSTICO NA FICÇÃO BRASILEIRA DO SÉCULO XXI

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Flávio Martins Carneiro

Resumo

A ficção brasileira, desde meados do século XIX, como nos mostra Davi Arrigucci Júnior (1981) e Maria Cristina Batalha (2011), tem sido marcada pelo relato documental, seja nas experimentações regionalistas, seja no romance urbano. Para isso certamente contribuiu boa parte de nossos críticos e historiadores, que na maioria das vezes privilegiaram esse tipo de produção, em detrimento, por exemplo, da narrativa fantástica, em que o sobrenatural comparece de modo determinante. Neste início de século, no entanto, o fantástico vem ganhando cada vez mais espaço na ficção brasileira, apresentando-se como uma espécie de transgressão silenciosa (CARNEIRO, 2005) e configurando o que Roas (2014) define como traço marcante do gênero, ou seja, seu caráter de ameaça ao que entendemos por realidade. O propósito principal deste artigo é, a partir de breve análise de obras fantásticas de alguns autores brasileiros contemporâneos – Max Mallmann, Amilcar Bettega Barbosa, Carola Saavedra, Sérgio Sant’Anna – mostrar que o fantástico brasileiro, na contemporaneidade, mostra-se duplamente ameaçador: ao problematizar o conceito de real e ao remar na contramão de uma ficção tradicionalmente apegada ao documento.

Detalhes do artigo

Como Citar
Carneiro, F. M. (2024). TRANSGRESSÃO SILENCIOSA: PRESENÇA DO FANTÁSTICO NA FICÇÃO BRASILEIRA DO SÉCULO XXI. Abusões, 23(23). https://doi.org/10.12957/abusoes.2024.79213
Seção
Abismo e vertigem: dinâmica da personagem na ficção fantástica
Biografia do Autor

Flávio Martins Carneiro, UERJ

Flávio Carneiro é Professor Titular de Literatura Brasileira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde leciona desde 1995, atuando na graduação e pós-graduação em Letras. Tem dezesseis livros e diversos artigos publicados em periódicos, jornais e revistas do país e do exterior. Fez Mestrado e Doutorado na PUC-Rio, e Pós-Doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sempre trabalhando com prosa de ficção. Dos seus principais projetos de pesquisa, destacam-se o mapeamento da ficção brasileira produzida nos últimos trinta anos, pesquisa de Pós-Doutorado da qual resultou o livro No país do presente: ficção brasileira no início do século XXI (Rio de Janeiro: Rocco, 2005), e a análise de personagens-leitores, em contos e romances diversos, nacionais e estrangeiros, trabalho reunido posteriormente no livro O Leitor Fingido (Rio de Janeiro: Rocco, 2010). Mais recentemente, pesquisou o gênero fantástico no Brasil, tendo escrito, a respeito do tema, artigos publicados em periódicos no Brasil e no exterior. Atualmente, pesquisa a presença da narrativa de entretenimento no Brasil, do século XIX à contemporaneidade, dentro do programa Prociência, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com bolsa FAPERJ. De 1993 a 1999, foi professor do curso de Comunicação Social da PUC-Rio. Nesse período, centrou suas aulas nas relações entre literatura e outras linguagens, em especial as do cinema e da televisão. Em 2006, foi curador - na área de literatura brasileira - do projeto Copa da Cultura. O projeto foi resultado de um convênio internacional entre Brasil (Ministério da Cultura) e Alemanha (Casa das Culturas do Mundo), com selo oficial de ambos os governos e apoio das respectivas embaixadas. O objetivo foi divulgar a cultura brasileira na Alemanha aproveitando o ano da Copa do Mundo. Foram realizados, na área de literatura, encontros literários com 10 escritores brasileiros e 3 conferências com intelectuais reconhecidos nacional e internacionalmente. Os encontros abrangeram as áreas de poesia, crônica e ficção, e as conferências tiveram por temas aspectos da cultura brasileira contemporânea. Mais informações sobre o projeto podem ser encontradas no sítio do Ministério da Cultura na internet. Em 2007, foi consultor da Enciclopédia Virtual de Literatura Brasileira, produzida pelo Instituto Itaú Cultural. Em 2009 e 2010, foi curador do projeto Encontros de Interrogação. O Encontros de Interrogação é realizado a cada dois anos pelo Instituto Itaú Cultural e reúne escritores, críticos, tradutores, pesquisadores e professores ligados à área de literatura. É também ficcionista, com romances, livros de contos e crônicas publicados ao longo de quatro décadas. Ganhou alguns prêmios literários, dentre eles o Jabuti 2021 (categoria: crônica). Mais informações sobre sua obra, bem como críticas sobre seus livros, entrevistas e textos esparsos, podem ser encontrados na sua página pessoal: www.flaviocarneiro.com