A MÁQUINA, O FANTASMA E A SOMBRA DO EU: CONFIGURAÇÕES DA IDENTIDADE EM “TÓQUIO” E MOVIMENTO 78

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Andre Cabral de Almeida Cardoso

Resumo

Nos últimos anos, tem-se assistido ao surgimento de um número significativo de romances, novelas e contos brasileiros de caráter marcadamente distópico. Essa tendência se explica em parte pela vivência traumática da pandemia de covid-19 e pelo recrudescimento de um ideário político autoritário no Brasil. Por outro lado, ela envolve também uma releitura crítica da história nacional e das contradições estruturais da sociedade brasileira. Narrativas como “Tóquio” (2021), de Daniel Galera, e Movimento 78 (2022), de Flávio Izhaki, adotam o tropo da inteligência artificial como meio de discutir os efeitos de novas tecnologias em um país à margem dos principais centros produtores, assim como as condições materiais em que se dá sua penetração. A associação da inteligência artificial com a fantasmagoria aponta para as nebulosas relações de poder que caracterizam o capitalismo tardio, bem como para uma figuração da subjetividade ligada ao mistério, à indefinição e à fragilidade do indivíduo diante das pressões do mundo externo. Este artigo tem o objetivo de examinar algumas das estratégias formais adotadas pelas duas narrativas como base para essa modulação da noção moderna de subjetividade, calcada no modelo paradigmático do personagem do romance realista. Ao discutir o conceito de humano em oposição à máquina, “Tóquio” e Movimento 78 testam os limites desse modelo de personagem, inserindo-o no entrecruzamento do realismo com outras vertentes literárias, como a distopia, a ficção científica e o gótico.

Detalhes do artigo

Como Citar
Cardoso, A. C. de A. (2023). A MÁQUINA, O FANTASMA E A SOMBRA DO EU: CONFIGURAÇÕES DA IDENTIDADE EM “TÓQUIO” E MOVIMENTO 78. Abusões, 22(22). https://doi.org/10.12957/abusoes.2023.74379
Seção
Distopia e Contemporaneidade
Biografia do Autor

Andre Cabral de Almeida Cardoso, Universidade Federal Fluminense

André Cabral de Almeida Cardoso é doutor em Literatura Comparada pela New York University, 2009. É professor associado da Universidade Federal Fluminense, onde também atua no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura. É membro dos grupos de pesquisa (CNPq) “Interferências: Literatura e Ciência”, “Estudos do Gótico” e “Distopia e Contemporaneidade”, no atua como líder. É também membro do GT da ANPOLL “Vertentes do Insólito Ficcional”.