O NEODISTÓPICO: UM BREVE PANORAMA

Resumo

O que caracteriza uma distopia no século XXI? É esta a questão que se apresenta como força-motriz do presente artigo. A partir de um mergulho no coração das trevas da ficção contemporânea em língua inglesa, e com base nas discussões teórico-críticas acerca dos utopismos e distopismos (BACCOLINI, 2020; BACCOLINI; MOYLAN, 2003; CAVALCANTI, 1999; MOYLAN, 2016; SARGENT, 1994, 2010), é possível constatar que a ficção distópica produzida nessas duas primeiras décadas do século XXI tem apresentado características que a difere daquelas distopias do século passado. No presente artigo, esse amplo, diverso e fragmentado conjunto obras contemporâneas é denominado neodistópico. Constitui-se como objetivo deste artigo, portanto, conceituar o neodistópico e oferecer uma visão panorâmica de suas características, com ênfase na intertextualidade (KRISTEVA, 2005; SAMOYAULT, 2008), multiperspectividade (HARTNER, 2014; NÜNNING; NÜNNING, 2000) e metaficção (HUTCHEON, 1980; WAUGH, 1984). Diante disso, romances como Atlas de nuvens (Cloud Atlas, 2004), de David Mitchell, O poder (The power, 2016), de Naomi Alderman, Guerra americana (American war, 2017), de Omar El Akkad, Nova York 2140 (New York 2140, 2017), de Kim Stanley Robinson, The water cure (2018), de Sophie Mackintosh, a trilogia MaddAddam (2003, 2009, 2013), e Os testamentos (The testaments, 2019), de Margaret Atwood, entre outros, podem ser considerados como paradigmáticos do neodistópico, oferecendo, assim, uma relevante amostra dos elementos que o caracterizam.