No influente estudo The Literature of Terror [1996], David Punter indica que a literatura decadente promoveu um importante revival do gótico literário nas últimas décadas do século XIX, com a introdução e a atualização de personagens, enredos e mitos. A percepção de degeneração coletiva e individual, marcante no período, teria ensejado o surgimento, na ficção, de figuras como Dorian Gray, Dr. Jekyll e Mr. Hyde, Dr. Moreau e Drácula. De forma análoga, Jean-Baptiste Baronian, no Panorama de la littérature fantastique de langue française [2007], identifica a existência de um fantástico fin-de-siècle, com o renovado interesse de diferentes escritores pelo ocultismo e pela morbidez. No centro da argumentação de ambos os críticos está a constatação de que as narrativas da decadência fizeram uma releitura das artes do mal e do insólito.

Este dossiê tem por objetivo examinar como a produção literária finissecular de diferentes países explorou os temas do sobrenatural, do metaempírico e do horror. Convidamos os pesquisadores a submeterem artigos originais que investiguem as relações entre a narrativa decadente e as variadas manifestações do insólito ficcional, tais como o fantástico, o gótico, o grotesco e o terror. Desejamos avaliar os diálogos intertextuais e as reconfigurações dessas tradições artísticas na prosa de ficção produzida a partir dos anos 1880 até o final da década de 1920. Acolheremos, ainda, propostas que adotem uma perspectiva comparatista entre obras da decadência e de períodos anteriores.