Contribuições de Frantz Fanon para o diagnóstico compreensivo e fenomenológico em psicopatologia

Para uma hermenêutica do regime ontológico colonial e de suas patologias

Resumo

Este ensaio pretende avaliar como a abordagem de Fanon sobre a subjetividade e a psicopatologia do sujeito colonizado, nas figuras centrais por ele analisadas (o antilhano, o africano e o árabe), contribui para a concepção compreensiva e fenomenológica de diagnóstico em psicopatologia. Em um primeiro momento construímos uma aproximação histórica e epistemológica entre o pensamento psiquiátrico de Fanon e os paradigmas de seu tempo. Demonstramos diante dos embates da época (organicistas x psicogênicos) que Fanon assume uma via integrativa entre psique, soma e sociedade, sendo esta a via que possibilitou o diagnóstico estrutural como figura. Em seguida, elucidamos a forma como a distinção entre compreensão e explicação, colocada por Jaspers, foi apropriada por Fanon e recolocada no contexto de uma análise estrutural da conjuntura social e histórica vivida pelo paciente. Em um terceiro momento, visou-se destacar como o diagnóstico situacional de Fanon reformula a questão do corpo doente e de sua semiologia em direção a uma analítica da situação social e de suas patologias. O diagnóstico situacional permitiu a Fanon conectar uma episteme e ontologia coloniais com casos clínicos e instituições que, neste contexto, marcam os sujeitos através de normas intersubjetivas implícitas. Com isso, o autor fornece elementos para o desenvolvimento de uma hermenêutica do regime ontológico colonial por meio de uma fenomenologia das patologias sociais. Concluímos sublinhando os desafios colocados por esta fenomenologia em direção ao enquadramento da própria psicopatologia fenomenológica e a sugestão, aí implícita, de sua distensão epistemológica e, portanto, dos indícios de um giro epistêmico decolonial