Filosofia do cuidado e vulnerabilidade
DOI:
https://doi.org/10.12957/ek.2021.56723Palavras-chave:
ética, responsabilidade, solicitude, cuidadoResumo
A pandemia do coronavírus trouxe à tona uma crise de saúde pública e econômica de nível mundial sem precedentes, que em nosso país aprofundou a desigualdade social e acentuou a vulnerabilidade dos grupos mais pobres. Alguns países agiram prontamente logo no início do ciclo pandêmico e conseguiram minimizar suas consequências, como a Coreia do Sul ou a Alemanha; outros, sofreram bastante com os números elevados de contaminados e de óbitos, como Espanha e Itália. Mas nada igual com aquilo que se verificou nos EUA e Brasil, cujos presidentes ignoraram e minoraram o contágio, desautorizando o discurso científico e pouco agindo na esfera pública para resistir à pandemia. A crise brasileira vai de par com o desmonte das instituições públicas, sejam elas ligadas à saúde, à ciência ou à educação. O objetivo deste artigo é considerar a noção filosófica de cuidado como uma tentativa de resposta efetiva à situação pela qual passamos, a fim de estabelecer um horizonte que amplie a nossa visão e nos permita ver além do que está próximo, não para se afastar o olhar, mas para ver melhor. A noção filosófica de cuidado tal como a entendo é devedora tanto da reflexão de Hans Jonas sobre a responsabilidade, enquanto expressão de um compromisso autêntico com a dignidade da vida humana, como da reflexão de Paul Ricoeur sobre a noção de sabedoria prática, demarcada pela solicitude enquanto uma preocupação com o outro.