A filosofia da existência de Kierkegaard: background da Hermenêutica de Hans-Georg Gadamer
DOI:
https://doi.org/10.12957/ek.2020.45581Resumo
Ao ressignificar os sentidos do que é compreender, a obra de Kierkegaard pode ser lida como uma sutil reação às respostas epistemológica dos neokantianos e idealista dos hegelianos ao problema do fundacionalismo. Gadamer não só entendeu isso como a partir dessa constatação fundamentou sua Filosofia Hermenêutica. Partindo dessa premissa, nos ocuparemos em demonstrar que para ambos nem a existência nem o processo hermenêutico podem ser pré-concebidos estrutural, abstrata e objetivamente de forma normativa. Para Kierkegaard, os aspectos internos da existência só podem ser descritos através da dialética da comunicação subjetiva e, para Gadamer, o acontecer hermenêutico perpassa pelo próprio processo dialógico entre um eu e um tu, situados temporal e finitamente na existência cujo fundamento da relação é ético-ontológico e não teórico-normativo, como queria a hermenêutica técnica baseada em pressupostos positivistas modelados pela dicotomia sujeito-objeto. A radicalização dos sentidos e movimentos do compreender, esboçadas por Kierkegaard, provocaram e influenciaram profundamente Gadamer. O dinamarquês torna-se um dos expressivos backgrounds de sua Hermenêutica tanto quanto o historicismo de Dilthey, a facticidade heideggeriana, a fenomenologia husserliana e o perspectivismo nietzscheano.