Sobre a Revista

Foco e Escopo

Revista TransVersos de História, publicação quadrimestral, Qualis A3, do Laboratório de Estudos das Diferenças e Desigualdades Sociais (LEDDES/2001), vinculada ao Departamento de História e ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro privilegia trabalhos inéditos e originais desenvolvidos nas linhas de pesquisas Áfricas, Escritas da História e Vulnerabilidades Sociais. Artigos, traduções, resenhas, entrevistas e notas de pesquisas, recebidos em fluxo contínuo, compõem cada número, juntamente com um Dossiê, cuja temática é definida com antecedência.

A escolha do título TransVersos reveste-se, portanto, dessa intencionalidade programática. A imagem de um dente-de-leão espargindo-se ao vento, às incertezas, ao acaso e repropondo-se ainda como tal, mas também como outro totalmente inédito no tempo e no espaço evoca o objetivo central da Revista.  Uma reprodução que sempre gera algo novo e não supostos clones de seus genitores.

A Revista procura viabilizar o experimento interinstitucional e transdisciplinar de desnaturalização das diferenciações sociais. Dentre estas ressaltam-se as de classe e status, de ocupação no mercado de trabalho, de gênero, de sexualidades; de geração, as étnicas e a raciais, assim como as linguísticas, as regionais e nacionais, entre outras, que não apenas distinguem, mas hierarquizam, subordinam, opõem e excluem pessoas, conformam seus comportamentos, direcionando suas vidas. Estamos, eticamente, voltados/as ao respeito às diferenças, contanto que não implique na eliminação do direito à igualdade, ou seja, a prerrogativa das pessoas serem tratadas como iguais em todas as esferas institucionais que afetam suas oportunidades de vida, influindo no acesso aos bens e aos serviços sociais.

 

Processo de Avaliação pelos Pares

  1. Todas as contribuições estão sujeitas à aprovação prévia dos Editores que, primeiramente, levam em consideração a adequação do texto à proposta das linhas editoriais e do cumprimento das normas técnicas.
  2. O aceite final está sujeito a recomendação dos pareceristas, das alterações realizadas pelos autores(as), quando necessário e aprovação final dos Editores do dossiê.
  3. A submissão conta com sistema de revisão por pares duplo-cego, realizada por pareceristas externos, alheios ao Comitê Editorial e à instituição editora. 
  4. Os/as Pareceristas são ad hoc, ou seja, convidados e são escolhidos a partir relação da sua área de atuação com os temas e/ou questões teóricos-metodológicas dos textos enviados para submissão.
  5. O texto é submetido a dois/duas Avaliadores/as, a quem cabem decidir se a colaboração deve ou não ser publicada, com ou sem modificações.
  6. Em caso de divergência entre os pareceres, a colaboração será enviada para um terceiro/a Avaliador/a, o que acarretará no aumento do prazo para a conclusão da avaliação.
  7. Os critérios de avaliação estão divididos em dois pontos. O primeiro é a qualidade produção, onde são observados a relevância do tema, o problema, os objetivos, o argumento central, o uso de documentos, desenvolvimento teórico-metodológico e relação com do tema com referências bibliográficas atuais. O segundo ponto limita-se a observar a conformidade do material às Normas de Submissão
  8. O tempo estimado para a conclusão da avaliação: 4 (três) semanas.

Periodicidade

Desde 2015, a Revista TransVersos é uma publicação quadrimestral.

Política de Acesso Livre

Esta revista oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona maior democratização mundial do conhecimento.

Editorial

Pensar é experimentar, é arriscar, logo só se pensa quando se é instigado. Esse mote impulsiona nossa Revista TransVersos a inquirir as condições  que informam o humano e seu estar no mundo. A proposta é escapar da narrativa linear, construir um hipertexto que faça ligações com outros pensamentos, onde cada palavra chave abra um campo de possibilidades transdisciplinar na (re)construção coletiva do conhecimento.  Escapar da era do legislador, com suas verdades perfeitas capturadas nos documentos de uma história- ciência mestra da vida. Aceitar as incertezas, os hibridismos, as fragmentações e desterritorialização da cultura virtual e suas espacialidades nômades:

"[...] Nós vivemos na época da simultaneidade: nós vivemos na época da justaposição, do próximo e do longínquo, do lado a lado e do disperso. Julgo que ocupamos um tempo no qual a nossa experiência do mundo se assemelha mais a uma rede que vai ligando pontos e se intersecta com a sua própria meada do que propriamente a uma vivência que se vai enriquecendo com o tempo." (Foucault: 1984)

Esse presente intolerável orienta a direção do olhar dos nossos articulistas que, ancorados na materialidade de suas pesquisas, nas diferentes ferramentas metodológicas, problematizam  a ordem discursiva que faz emergir subjetivações e limites, quer sejam temporais ou espaciais. Sabemos que as fronteiras são móveis, imaginárias, construídas e, mesmo as  consideradas naturais, expõem os poderes de quem as delimitou. Como analisa em  A ‘não-cidade’: a favela vista pelos cronistas do início do Século XX, Paulo Roberto Tonani do Patrocínio ao explorar as percepções constituídas em torno da favela como território simultaneamente diferenciado e definidor da cidade. Considerada o berço da cultura popular genuína do carioca, a favela é fixada em crônicas e letras de música também como espaço estranho e ameaçador, afastado do ideário “civilizatório” que domina os projetos iniciais da República, cujo epítome é a regeneração da capital através da reforma urbana empreendida por Pereira Passos. Aprofundando, de forma crítica, as possibilidades interpretativas retiradas da teoria literária e da sociologia urbana – especialmente na chave de um olhar “classificatório” – sobre a favela, o autor possibilita uma aproximação renovada com “fontes” como os textos de João do Rio, Benjamin Costallat e as memórias e versos de Orestes Barbosa. Estabelecendo um nexo entre a vivência belle époque e a contemporaneidade, o artigo permite rever a suposta  univocidade da imagem da favela e confrontar, no âmbito da representação, os desafios de integração do que chama “duas territorialidades”.

Ainda nessa mesma espacialidade Teresa Andrea Florêncio da Cruz em  Vozes da guerra urbana no Rio de Janeiro (anotações sobre a tomada da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão), discute a violência e a insegurança urbana a partir do exame dos discursos que propagam o medo. Através da aproximação com a reconfiguração ficcional e midiática da experiência, apresenta argumentos que atendem à problemática em dois níveis: o da experiência concreta de escalada da violência e do lugar das políticas públicas nesse enfrentamento e o da constituição de um imaginário urbano em torno do tema. A representação de “sujeitos e territórios favelados” reveste de novos sentidos a sociabilidade carioca, configurando e naturalizando uma “lógica de guerra”, num processo que acaba por atravessar diferentes narrativas. Explorando a possibilidade de uma voz para aqueles que têm capital limitado de representação, o artigo mobiliza autores como Pierre Bourdieu, Walter Benjamin e Carl Schmidt. O ponto de partida é desafiador: o conceito de “atitude textual”, extraído de Edward Said, que aponta para a complexa dimensão identitária constituída a partir de discursos marcados por imagens prévias da alteridade que definem de antemão o sentido da experiência narrada.

Pensar diferentemente do que se pensa, é assim que Tecia Vailati apresenta o diálogo de mão dupla entre arte e política. Revisitar a antropofagia, iluminar as concepções de natureza, história e civilização a partir do Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade. Aprofundando as consequências da proposta oswaldiana sob a chave da filosofia de Walter Benjamin e das reflexões de Susan Buck-Morss, o artigo Antropofagia como mito de controle enriquece a reflexão acerca da modernidade e dos conceitos que forjaram a convicção de um desenvolvimento linear em direção ao progresso. Examinando os pares antitéticos contidos no Manifesto, a autora oferece um olhar interessante, no qual a proposta antropofágica não se limita ao exame dessas oposições estruturais, mas apresenta-se como outra possibilidade interpretativa da visão evolucionista sobre história e natureza: a “devoração modernista” constitui uma terceira via (a do “bárbaro tecnicizado”) e subverte a percepção de inferioridade, propondo uma interpretação do Brasil na matriz de uma “cópia sim, mas regeneradora”.

Outro manifesto que emerge em um outro espaço heterotópico -Caderno B do Jornal do Brasil- é o objeto do artigo de Patrícia Ferreira de Souza Lima. Desta feita o foco no pensamento como ação da primeira geração de mulheres formadas em Comunicação que atuaram na mídia impressa. A princípio uma coluna direcionada ao público feminino que, no entanto, não só se destaca enquanto discurso de gênero na cidade do Rio de Janeiro, mas repercute também em âmbito nacional. As Meninas do B (como eram conhecidas) conquistam um espaço no jornalismo brasileiro e atuam na cena midiática brasileira de diversas formas conforme analisa o artigo em questão.

Da tática, como jogo das astúcias das meninas do caderno B, à analise da diplomacia como um dos domínios mais tradicionais da História. Essa é a instigante provocação que sugere a ordem da apresentação dos artigos. A institucionalização acadêmica das relações internacionais e a renovação historiográfica de inícios do século XX ampliaram a distância entre os principais eixos de pesquisa acerca da diplomacia e das relações diplomáticas e não contemplaram a contento os períodos da antiguidade e do medievo em suas pesquisas. Não obstante, as temáticas em questão têm recebido novas atenções por parte dos historiadores nas últimas décadas. Nesse sentido, Douglas Mota Xavier de Lima propõe apresentar alguns apontamentos, caracterizando Os novos olhares sobre a diplomacia medieval. Entretanto, mesmo com essa renovação dos estudos sobre a diplomacia medieval, ainda existe uma série de lacunas e temáticas que podem contribuir para o campo de estudos, tanto da parte dos historiadores, como dos bacharéis em Relações Internacionais.  Ao observar o movimento de mudanças ocorrido em ambos os campos nas últimas décadas, é possível esperar que os diálogos possam ser ampliados. Que a presente contribuição incentive interessados nesta perspectiva.

As fronteiras da história já foram áreas de conflitos, cuidadosamente,  isoladas com cercas  que eletrocutavam àqueles que ousassem atravessá-las. Porém,  já vai longe a tirania da objetividade dos tempos da hermenêutica e da heurística definidoras do saber poder da história metódica rankeana. Nesse sentido, o artigo de Priscila Velozo da Silva busca a partir de boletins e imagens da Sociedade de Geografia de Lisboa identificar o papel dessa instituição para a invenção da nação portuguesa. Destaca a importância da Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL) e seu papel na construção de um saber/discurso sobre a África portuguesa. Nessa Sociedade os saberes sobre a natureza, objeto da geografia com seus tratados descritivos do planeta, emergem na cena discursiva internacional, no final do século XIX. Sua análise permite inquirir como essa área do conhecimento teceu relações de poder entre as nações europeias na legitimação de seus territórios.

Convido-os à leitura não apenas das palavras, seus significados e significantes, datados, gastos pelo uso, naturalizadas e por conta disso, muitas vezes despidas de suas  historicidades. Mergulhem nas potencialidades dos objetos e, em especial, percorram os diferentes caminhos da pesquisa.  Enfim, sejam leitores, sejam críticos logo, habitem os textos.



Rio de Janeiro, 29 de março de 2015.

Comitê Editorial

Histórico do periódico

A Revista TransVersos, revista eletrônica do Laboratório de Estudos das Diferenças e Desigualdades Sociais (LEDDES/PPGH/UERJ), constitui um espaço de diálogo inter e transdisciplinar, entre a História e os demais saberes, objetivando o intercâmbio do laboratório com outros áreas de produção científica afins, nacionais e internacionais. Criada em 2014 e com periodicidade quadrimestral, a revista atualmente conta com 26 números já publicados e a 27ª em preparação.