n. 33 (2014): 50 Anos da Ditadura no Brasil (1964-1985)

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A Revista da Faculdade de Serviço Social da UERJ - Em Pauta -Teoria social e realidade contemporânea – tem o seu número 33 dedicado ao tema: 50 anos da Ditadura no Brasil (1964-1985). O propósito é registrar a memória desta etapa recente da história brasileira e a resistência democrática ao arbítrio e ao terror, na recusa à sua naturalização e ao seu esquecimento. O intuito é rememorar o passado e jogar luzes às rotas coletivas que estão sendo gestadas no presente na perspectiva do enraizamento dos valores e institutos democráticos na práxis social.

A “ditadura do grande capital”, nos termos de Ianni, desenvolve-se como uma contrarrevolução: uma resposta da grande burguesia financeira e monopolista (associada com setores de classe média, da Igreja, militares, policias, latifundiários, burocratas, tecnocratas e outros grupos e frações de classe) à ascensão política da classe operária e do campesinato. Vivemos uma contrarrevolução num duplo sentido: um golpe de Estado contra os operários e camponeses que se transformavam em classes políticas enquanto categoria organizada, consciente e ativa; e uma contrarrevolução “autocrático burguesa”, como nos alerta Florestan Fernandes, contra a democracia com destruição das prerrogativas de cidadania conquistadas limitadamente entre 1946-1964.

A ditadura militar e burguesa pautou-se sob o lema da segurança e desenvolvimento, uma metamorfose de ordem e progresso. Segurança no sentido de “segurança interna” voltada ao controle e repressão de toda a organização política especialmente das classes assalariadas, tendo em vista dar livre curso à acumulação pelo capital monopolista. E desenvolvimento, enquanto florescimento das forças de mercado com a predominância da livre-empresa. Assim, a estratégia compreendia tanto a repressão política quanto a superexploração da força de trabalho apoiada numa coligação de tecnocratas e militares no poder. O segredo do “milagre brasileiro” se expressou no cotidiano da classe trabalhadora como excesso de trabalho, baixa remuneração, jornada intensa e extensa, pauperização absoluta e relativa. Ele foi acompanhado da brutal repressão às liberdades civis e políticas nas suas expressões individuais e coletivas, o que também provoca a (re) politização da classe operária e outros sujeitos sociais.

As marcas da ditadura, expressas no desrespeito aos direitos civis e políticos e aos direitos humanos, assim como a resistência democrática a este cenário, se espraiam nas múltiplas dimensões da vida social: nas organizações políticas, no cinema, no teatro, na música, na imprensa, na universidade e nas lutas estudantis, na Igreja Católica progressista, nas lutas pela anistia, nos movimentos de  mulheres, na organização política de segmentos profissionais, na resistência operária e de trabalhadores rurais, entre outros sujeitos coletivos que eclodem na cena pública.

Capturar essa tensão entre repressão e resistência democrática no período de 1964 a 1985 no esforço de iluminar a memória coletiva é o que move a proposta deste número da revista, que também busca estabelecer o contraponto com outras experiências nacionais. O esforço volta-se ainda para atribuir visibilidade às expressões particulares desta tensão no universo acadêmico e profissional do Serviço Social brasileiro e em suas articulações latino-americanas.
Publicado: 30-09-2014

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