O MÉDICO, O MONSTRO E OS OUTROS

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Vinicius Lucas de Souza
Aparecido Donizete Rossi

Resumo

RECEBIDO EM 30 SET 2016
APROVADO EM 14 OUT 2016

Visualizando-se o conto “William Wilson” (1839), de Edgar Allan Poe, o tema do duplo (Doppelgänger) conduz toda a narrativa. Com a premissa de que esse conto é um marco nessa temática, como afirma Otto Rank, estudioso de tal motivo, pode-se dizer que a denominação “Complexo de William Wilson” seja adequada para representar três elementos que emergem da narrativa mencionada de Poe: a existência de uma segunda personagem que compartilha traços físicos e psíquicos da personalidade “original”; a existência do Unheimliche (tal como definido por Sigmund Freud em seu ensaio “O ‘estranho’” (“Das Unheimliche”, 1919)), o familiar e estranho convergindo para uma mesma personagem (o outro; o duplo); e o espelho, auxiliador da manifestação do Doppelgänger. Tendo em mente o referido Complexo (que é identificado pelo conto citado de Poe), o que se almeja demonstrar neste artigo é como o Complexo de William Wilson é revisto no romance O médico e o monstro (Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1886), de Robert Louis Stevenson. Com uma ampliação da abordagem da segunda entidade, uma inovação no elemento unheimlich e modificado o espectro de atuação e significação do espelho, o romance em questão ressignifica o tratamento do Complexo de William Wilson. Com a revisão desses três fatores, Henry Jekyll, Edward Hyde e o “hóspede” dessas duas personalidades, bem como os jogos fractários, metaficcionais e catóptricos, promovem a insurgência do que aqui se denominou Paradoxo Jekyll-Hyde.

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By visualising Edgar Allan Poe’s “William Wilson” (1839), the theme of the double (Doppelgänger) orients the whole narrative. On the assumption that this short story is a landmark on this thematics, as claimed by Otto Rank, a scholar on such motif, it is possible to say the denomination “William Wilson Complex” is adequate for representing three elements that emerge in Poe’s mentioned narrative: the existence of a second character who shares physical and psychic features of the “original” personality; the existence of the Unheimliche (as defined by Sigmund Freud in his essay “The ‘Uncanny’” (“Das Unheimliche”, 1919)), the familiar and uncanny converging into the same character (the other; the double); and the mirror, auxiliary of the manifestation of the Doppelgänger. Considering the referred Complex (which is identified by Poe’s short story in question), this paper intends to demonstrate how the William Wilson Complex is revised in the novel Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1886), by Robert Louis Stevenson. By broadening the approach of the second entity, innovating the unheimlich element, and modifying the spectrum of performance and signification of the mirror, the novel in question ressignifies the treatment of the William Wilson Complex. With the revision of these three factors, Henry Jekyll, Edward Hyde, and the host to such personalities, as well as the fragmentary, metafictional and catoptric games, promote the insurgence of what here is denominated the Jekyll-Hyde Paradox.

DOI: 10.12957/abusoes.2016.25950

Detalhes do artigo

Como Citar
Souza, V. L. de, & Rossi, A. D. (2016). O MÉDICO, O MONSTRO E OS OUTROS. Abusões, 3(3). https://doi.org/10.12957/abusoes.2016.25950
Seção
Figurações de personagem em contextos insólitos
Biografia do Autor

Vinicius Lucas de Souza, UNESP – FCL-Ar

Graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela UNESP Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (2015) e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários pela mesma universidade. Desenvolve pesquisa na área de Literaturas Estrangeiras Modernas, com ênfase em Literaturas de Língua Inglesa e Literatura Gótica, focando no motivo literário do duplo e suas transformações na Ficção.

Aparecido Donizete Rossi, UNESP – FCL-Ar

Graduado em Letras (Português/Inglês) pela UNESP Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (2003), Mestre em Estudos Literários pela mesma universidade (2006) e Doutor em Estudos Literários também pela UNESP Araraquara (2011). Atua em Letras, na área de Literaturas de Língua Inglesa, e desenvolve pesquisas principalmente sobre as Manifestações do Gótico, do Fantástico e da Fantasia na Literatura, a vida e a obra de Kate Chopin, Literatura e Desconstrução e Literatura e Psicanálise.